segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Modernices

Levo o portátil para a cozinha, abro o website das receitas e sigo os passos descritos no vídeo. Tudo isto perante o ar de espanto e riso da minha mãe. Dependente das novas tecnologias? Nããããã...

É mais ou menos isto

Adoro a Alemanha no Natal. Por todo o lado vejo luzes de bom gosto nas janelas, nos canteiros, nas árvores dos quintais. Um requinte de magia que muito aprecio, que aliás, adoro. Não adoro Portugal no Natal. Gosto, mas não adoro. Porque excepto o centro de Lisboa, o resto é feito de pais natais de plástico ou material insuflável a subir por todo o lado do prédio, inclusive já vi pais natais a sair de chaminés gigantes em plenas varandas particulares, luzes psicadélicas indutoras de ataques epilépticos, enfim, um desfile de mau gosto a condizer com... a falta de bom gosto urbanístico e arquitectonico.

Se na Alemanha sorrio ao ver as magnificas decorações que me aquecem o coração com a sua aparente magia, em Portugal todos os anos (desde que as lojas baratas passaram a fazer parte da sociedade) rio-me a sério, acho tudo muito cómico. Mas não consigo decidir qual o que prefiro, se a magia se o gozo. É que rir faz bem. Mas a magia traz-me paz.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

jwt shanghai & hailong li: shan shui animation

This post has been originally posted on Neocha EDGE.

The China Environment Protection Foundation(CEPF) recently commissioned JWT Shanghai to develop three print advertisements using shan shui style art by renowned landscape artist Yang Yongliang. The advertisements, titled Global Warming, Industrial Pollution, and Automotive Pollution, aimed to raise public awareness of ongoing environmental damage to China’s environment and were displayed as subway posters and full-page newspaper ads. The ads bear a striking resemblance to traditional Chinese paintings but, when looked at closely, portray environmentally unfriendly factories, cars, and buildings littering the landscape. The campaign has been a big hit with both the public and the press. The printed ads have received a number of international awards: Cannes Lions 2009 Outdoor Silver Ads, New York Festival Awards 2009, NYF 2009 Print Gold ads.

Consequently, the print ads have been adapted into an excellent animated short (see below) directed by Li Hailong from Beijing's One Production to run on air and on plasma screens in the Shanghai People Square Subway Station. The animation short was awarded the "Spikes Asia Gold Craft Spike" prize in the Category "TV - Best Use of Animation/Computer Graphics/ Special Effects" at this year's Spike Asia - Asian Advertising Festival. Additionally, the entire campaign won a number of Lotus awards at AdFest 2009, including gold for social engagement, best use of illustration, best art direction, and animation.

Apart from its mere artistic value, the campaign has also communicational and educational value: Raising public and governmental awareness might be the first step towards change. The campaign's worth is to be seen in the fact that, it manages to highlight the threat that ignorance represents to cultural identity by making use of aesthetic cues charged with traditional value.

Li, a graduate of the Beijing Film Academy with a degree in animation, told us he did not try to solely address environmental issues but also social ones as well: "The campaign expresses a societal attitude change with respect to the concept of "survival" – it activates an "environmental mindset" by addressing motives deeply rooted in everyone's psyche: the universal drive for continuance and the desire for a comfortable life."

Li explained that he made use of exaggerated imagery in order to emphasize the lack of space and suffocation people are confronted with today in China – a phenomenon, he says, that leads to increased levels of societal anxiety, confusion, and ultimately, a redefinition of necessity that exploits nature and replaces it with artificial substitutes.

Bravo JWT and One Production.

I would like to thank Hailong for his interview, patience and helpful comments.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Em Copenhaga


"Durante o dia, continuámos com as conferencias no klimaforum, desta vez abordando os limites do crescimento e desenvolvimento num planeta de recursos limitados. Mais uma vez se reforça a necessidade de uma mudança de sistema, de um corte com a politica economica actual.
À tarde, acompanhamos uma discussão sobre a divida ecologica, e muitos testemunhos na primeira pessoa de povos que sentem na pele as alterações climáticas e o sugar dos recursos naturais por parte das multinacionais.
A familia dinamarquesa que nos albergou nos primeiros dias confessa-nos que não podem mais ouvir falar em clima. Nos últimos meses, tem havido tanta publicidade em todo o lado e a toda a hora que, acabou por obstruir qualquer tipo de interesse em informação alternativa ao encontro que se realiza no Bella Center. Os habitantes de Copenhaga entendem porque vieram pessoas para as manifestações, mas temem o dia 16. Os mais velhos não entendem de todo, pois têm como garantido o "bom resultado" das decisões do COP 15. Partilhamos com eles as informações acerca dos encontros alternativos, e a reacção é a surpresa: "Mas, este homem é muito conhecido aqui!"
Assim, abrimos mais uma janela, e, pelo menos esta familia vai fazer o esforço para entender o que está por trás de toda esta loucura de publicidade.
Hopenhagen está por toda a parte, uma campanha que rapidamente se transforma em Shopenhagen no backstage. Existe um mega aproveitamento publicitário por parte das grandes multinacionais, o famoso green wash. "Somos todos pró-ambiente, pró-planeta." Há muita, muita gente zangada e ofendida."

Seguir o que se passa em Copenhaga no Projecto 270.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Causas ambientais associadas com aumento de Alzheimer

Um estudo financiado pelo Instituto Nacional de Saúde americano encontrou uma ligação significativa entre elevados níveis de nitratos no ambiente e na comida, com o aumento de mortes causadas por algumas doenças, incluindo Alzheimer, Diabetes e Parkinson. O estudo foi publicado no Journal of Alzheimer's Disease (Vol.17 (3), 2009).

Os investigadores procuravam ligações nos ratios de mortalidade causada por doenças associadas com o envelhecimento, tais como Alzheimer, Parkinson, diabetes, doenças cerebrovasculares, e também HIV. Foi assim que encontraram fortes associações entre o ratio de morte de Alzheimer, Parkinson e diabetes com o progressivo aumento de exposição humana a nitratos, nitritos e nitrosaminas através de comidas processadas e conservadas, assim como através da utlização de fertilizantes. Outras doenças incluíam HIV, doenças cerebrovasculares e leucemia, que não demonstraram qualquer associação com exposição a estas substâncias. Os autores adiantam que a exposição a estas substâncias revela um relacionamento critico na causa, no desenvolvimento e nos efeitos do aumento destas doenças insulino-dependentes.

Segundo De la Monte, a líder do estudo, "Tornámo-nos uma geração 'nitrosamina", "recebemos um aumento de exposição destas substâncias através da utilização abundante de fertilizantes, na agricultura, contendo nitratos. (...) Não só os consumimos através de produtos alimentares pré-processados, mas também por contaminação dos solos e recursos de água utilizados na irrigação, no processamento da comida e bebidas". Ela ainda comenta que "Todas estas doenças estão relacionadas com um aumento de resistência à insulina e deterioração de ADN. Os seus valores de prevalência aumentaram radicalmente nas ultimas décadas e não demonstram sinais de estabilização (ou seja, continuam a aumentar). Mas porque num período curto de tempo observámos um aumento dramático em incidência e prevalência nestas doenças, acreditamos que isto se deva a exposição ambiental e não a etiologias genéticas/mudanças genéticas" Ela reforça que "(...) é uma tendência que se verifica em todos os grupos etários, dentro de cada categoria de doença, indicando que estas tendências não estão relacionadas com uma população envelhecida".

Podem ler o resto do artigo (em inglês) aqui.

(a tradução é minha)

People never notice anything

I've just realized... how much I miss Holden.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A partir deste Natal só estas prendas contam

O Expresso online publicou um artigo sobre prendas que mudaram vidas. Com a excepção da frase, logo no primeiro caso "Até arranjou uma namorada de 28 anos!", muito desnecessária, de carácter discriminatório, com que já nos habituámos a viver (eu não me habituo, mas sempre fui assim, não há nada a fazer) e que não tem outra função, a meu ver, senão diminuir a qualidade do texto, o resto do artigo é de facto, inspirador. As histórias são todas fascinantes, gostei particularmente das duas últimas porque mencionam instituições de voluntariado que apoiam a faixa etária que mais sofre de solidão -os idosos- um problema generalizado da actual sociedade ocidental. Realço duas instituições mencionadas no artigo:

Médicos do Mundo
Banco do Tempo

Nos Médicos do Mundo, Floripes aprendeu a ler quase aos 80 anos, o que me enche de ternura, pois pode parecer pouco, mas não é. Lembro-me da minha avó paterna que também não sabia ler, mas que até ao final dos seus dias repetia o quanto lamentava essa lacuna. Pedia-me para lhe ler pequenos textos em revistas, as caixas dos medicamentos, etc. Acho que uma das maiores alegrias da minha vida foi aprender a ler e teria sido uma das maiores alegrias da vida dela.

O Banco do Tempo é uma ideia fantástica! Baseia-se no conceito de dar e receber e reforça, assim, a entreajuda comunitária. Do que mais precisamos no mundo! Por exemplo, o Artur como exerceu durante muito tempo a profissão de treinador de voleibol, foi convidado a dar aulas de ginástica. Também ajuda outras pessoas, inscritas no Banco do Tempo, a montar móveis. Em troca requisitou serviços de alguém que percebesse de canalização. Sério, até me mudava para Portugal só para fazer parte desta fabulosa iniciativa.

"A maior prenda que recebeu foi aprender a ler. Era um sonho antigo, que nunca tinha conseguido concretizar. "O meu falecido pai não me deixou ir à escola. Dizia que as meninas não precisavam de aprender a escrever, tinham era de aprender a trabalhar. Se o meu pai me tivesse deixado ir à escola, podia ter sido alguém. Assim, não sou ninguém", diz. "Disseram-me que ali, nos Médicos do Mundo, se ensinava a ler. E eu fui. Uma professora dava aulas a cerca de dez alunos. Agora, já sei ler e escrever - não como eu queria, mas já sei. Também já sei assinar o meu nome, e até escrevi duas cartas para eles, a agradecer", conta, sorrindo. Tira uma carta com letra arrumada, o agradecimento por um passeio a Santarém (...). D. Floripes até se estreou na poesia... "Penso, na rua, pelo caminho, e quando chego a casa escrevo. Gosto muito de puxar pela cabeça, de saber o que vou escrever...".

Detalhes importantes

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nem acredito

Que estou a fazer um post sobre culinária, os meus pais se soubessem ficariam muito orgulhosos. Ando a ver se me consigo desenrrascar na cozinha vegetariana e tive que, pela primeira vez na vida, procurar receitas. A minha irmã é que diz que a minha comida é deliciosa, porque é diferente e ninguém a faz como eu a faço. É tudo verdade, menos a parte deliciosa. Não tenho paciência para a cozinha (cozinhar leva horas intermináveis), e se um dia a coisa sai bem (por pura sorte), acreditem que não volto a repetir a façanha, pois não faço a mínima ideia como tal aconteceu. As únicas vezes que gosto da cozinha é quando cozinho com outra pessoa e divirto-me sempre. Bom, mas encontrei esta receita fácil, fácil, de sopa de lentilhas que adoro (quando é feita por outras pessoas), experimentei e até não ficou mal de todo. É claro que não faço a mínima ideia do que são "cumin seeds" (nem em inglês, nem em português, nem em alemão) e pronto fiz sem essa coisa. Experimentem, fica boa.


Indian:
How To Make Lentil Soup

Hein, este blog é só surpresas!

Adenda: já sei o que são cumin seeds (graças aos comentários, obrigada!) e a receita fica realmente mais saborosa com este acréscimo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mulheres bateristas

Muito a propósito do perigo de uma única história encontrei no Jellyfish Tales este pequeno documento sobre jovens bateristas chinesas que adorei. Gosto de pessoas que não caiem nas convenções que nos obrigam a pertencer, seja nas suas acções, seja nas suas cabeças. Por vezes, a vida lá nos vai obrigando a seguir aquilo que todos esperam de nós e, a partir de uma certa altura, há quem deixe de se questionar e se entregue. Há quem nunca se questione. Mas seria bom que entendêssemos que não vamos viver para sempre, não podemos adiar a vida que queremos viver, nem as pessoas que queremos ser. E é isso que adoro em tantos jovens, vivem hoje para hoje, fazem hoje o que querem e não deixam para quando ahhh conseguir a promoção, acabar o curso, o doutoramento, pagar a casa, o carro, a tv e o cabo, talvez para o ano, talvez daqui a cinco anos. Talvez nunca meus queridos. Agarrem as vossas paixões, não desistam, inspirem-se nestas histórias de mulheres chinesas, bateristas cheias de talento e que são muito engraçadas.


domingo, 29 de novembro de 2009

Para a próxima

Depois de escrever o post anterior (que foi escrito na biblioteca, claro está, tal não é a concentração nos artigos interessantíssimos que tenho para ler) voltei a ver o senhor alto da biblioteca. Ele voltou a olhar para mim e iniciou aquele jeito na cara que me faz pensar em sorriso. Mas foi porque escrevi o post, que resolvi sorrir-lhe de volta, fosse esgar ou trejeito de expressão, who cares. Toda a sua cara se iluminou, e, realmente, aquele esgar rasgou-se num sorriso feliz de cumprimento que eu, oh céus, vi apenas de fugida, porque desviei logo o olhar. O que é que querem, fui apanhada de surpresa, e de repente achei estranho toda aquela luminosidade na cara do senhor, fiquei com receio que ele fosse pensar coisas estranhas, como o Sr. José costumava pensar também. As patetices que passam numa cabeça tímida, que está incrivelmente aborrecida (já li todas as mensagens escritas na parede em frente). Pronto, para a próxima, já lhe retribuirei um sorriso cumprimento, daqueles seguros e sem embaraços. Isto, porque escrevi este post. Escrever posts é terapêutico.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O perigo de uma única história

Chimamanda Adichie explica claramente o perigo dos preconceitos. Aplica-se bem a muitos preconceitos, senão a todos. O que ela descreve, sinto quando falo com pessoas sobre os meus amigos indianos e chineses, pessoas que não têm amigos indianos ou chineses, nem nunca viveram nestes países (visitar não vale), mas que se acham perfeitos entendedores do que é um chinês ou um indiano, antes mesmo de os conhecerem, países tão ricos e diversos nas suas culturas milenares e regionais, e maiores que qualquer país europeu. O mais estranho é que, para muitas destas pessoas, nem lhes interessa conhecer a pessoa, pois já têm nas suas cabeças o preconceito formatado. Têm nas suas cabeças uma única história. Assim me sinto também quando ouço que as mulheres são todas assim e os homens são todos assado, ou que as mulheres é que são assim e os homens é que são assado. Mas pior, pior, é quando me tentam encaixar nos seus preconceitos. Como não me encaixo nessas histórias formatadas, nesses preconceitos em que temos que supostamente de caber, entendo profundamente o que Chimamanda quer dizer. Há um factor que nos molda o cérebro, que é a cultura, mas mesmo dentro da cultura, a minha é a portuguesa, sou fundamentalmente diferente de milhões de outros portugueses. Acreditem. Eu não sou uma única história, sou muitas. E, a partir de hoje, é isso que vou responder sempre que me tentarem encaixar nas suas ideias limitadas do que é uma pessoa :) Vejam, porque vale mesmo a pena.
(para pôr legendas em português, é só escolher na opção View Subtitles)



Através do excelente blog Montão de Coisas

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma história de guerra

Kseniya Simonova utiliza a técnica "animação de areia" para expressar a sua interpretação do sofrimento do povo Ucraniano na segunda guerra mundial, durante a qual se estima a morte de 8 a 11 milhões de ucranianos. Gosto muito de animações de areia, há uns anos ainda me correspondi com ILana Yahav, uma artista israelita que percorre o mundo com os seus shows de areia, mas Simonova apresenta uma das performances mais poderosas que já vi. Com esta animação ela ganhou o concurso televisivo "Ukraine's got talent" deste ano.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

tim burton on wearing striped socks


We have posted before on Tim Burton's restrospective at New York's MoMA, which features well over 700 paintings, drawings, photos, puppets, costumes, story boards, short films, and slideshows. Watch a video below, where the master himself shares with us some of his thoughts on drawing, movies, childhood, normality...and striped socks:


the girl effect


The Girl Effect is about girls. And boys. And moms and dads and villages and towns and countries.

Se soubesse escrever

Claro que sim, gostava de escrever um livro, se soubesse escrever. Falaria por exemplo do senhor da biblioteca. Daquele senhor alto que empurra o carrinho cheio de livros, revistas e jornais científicos. Aquele que olha para mim com um meio sorriso e a quem eu não correspondo, porque não percebo se é um sorriso ou se é apenas um esgar, um trejeito de expressão, um default mode. Justifico-me na minha incerteza cobarde. O senhor que vive em silêncio, anda em silêncio, coloca os livros lentamente nos seus lugares e sorri aos utentes usuais da biblioteca, que raramente lhe sorriem de volta. Escreveria sobre ele, sobre pessoas como ele. Pessoas que vivem em silêncio. Que trabalham em solidão. Que me lembram o querido Sr. José do livro “Todos os Nomes” do Saramago.

Escreveria sobre aquela senhora do documentário “Reino Pacifico”, a que sente uma empatia especial pelos animais que sofrem, que com o seu amor inspira todos à sua volta, que chora ao contar sobre o borrego que não conseguiu salvar, que ri ao observar as galinhas depenadas e desajeitadas a darem os primeiros passos na liberdade, depois de serem salvas. Que conseguiu, com este seu amor, construir uma quinta para onde leva animais que resgata dos campos de concentração da industria alimentar. Aliás, nem só escreveria, se fosse homem pedia-a em casamento.

Ou então sobre o dono da mercearia da esquina, um local em vias de extinção. Escreveria sobre como ele me sorri, claramente, e eu sorrio de volta a cumprimentá-lo. Aquele senhor que, teimosamente, não se deixa vergar pelas grandes superfícies, nem pelos franchisings. Aquele que me deve rogar pragas por nunca lá ter posto os pés, apesar de o cumprimentar educadamente, porque não sabe que sou tímida e o meu alemão é um suplicio e que transpiro só de pensar em ter que manter uma conversa nessa língua. Aquele que põe banquinhos à porta da mercearia, para os velhotes se sentarem a conversar. O único que se preocupa com aquele senhor na cadeira de rodas, muito sujo e barba imunda, deixa-o ficar ao pé dos banquinhos, um senhor com um ar muito triste, olhos muito azuis que nos inspeccionam a alma quando passamos. Aquele que remodelou a sua lojinha, acrescentou-lhe uma vitrina, que fica à porta à espera de clientes, a olhar as pessoas. A ver-me a mim passar e nunca lá entrar. Até me dói a cabeça só de pensar nisto, imagine-se se escrevesse um livro.

Escreveria sobre pessoas como a Maria, tentaria entrar na cabeça delas, no vazio das suas vidas, na pequenez dos seus interesses, nos preconceitos que as inundam, nas contradições daqueles cérebros. Ai os chineses, ai os indianos, pretos credo socorro, ai que cheiro, ai o raio do cão, ai o raio do gato, ai aqueles cachorrinhos que lindoooss. As Danielle Steel e as Nora Roberts que enchem as suas prateleiras, as telenovelas que vêm, as telenovelas que fazem. O veneno doce que espalham.

Desenhar como as crianças


Jonny Wan através do excelente blog Jellyfish Tales.

Desenhos de crianças sobre "A tia Árvore" no blog Ler, Escrever, Imaginar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

days with my father


Phillip Toledano is a very talented photographer. He has recently signed a book deal for his online project "Days With My Father". This project documents in photographs and words the moments the artist spends with his 98 year old father, who suffers from a short-term memory impairment. I love everything about this project. Its beauty, honesty, simplicity.

NOTHING cheers up my dad, like stories of my success. So if he's down, or obsessing about something, I'll immediately conjure up a blossoming career. I'm shooting for the New York Times. The New Yorker. Multi-million dollar advertising campaigns. Sometimes it's true, sometimes it's not. But it doesn't matter. The important thing is to fill him with as much joy as I can. His face bursts with happiness. He'll say "I have to tell ALL my friends, my son is famous!".

A excepção

Este ano resolvi acabar com o folclore das prendas de Natal. Não dou e não quero que me dêem.

Isto até ter recebido a noticia do lançamento do livro "Caderno de Memórias Coloniais" da Isabela Figueiredo, a escritora do blog Novo Mundo Perfeito. É assim que se quebram compromissos e acordos (ouvi dizer). Porque este é um livro que vou ter que dar a muita gente ("ter que dar" é mesmo a expressão correcta, pois ela escreve lindamente e há memórias que não podem ser esquecidas).


Angelus Novus, o site da editora onde se pode adquirir o livro online.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ando à procura de casa


... e acho que me vou mudar para Almancil, soa-me a boa gente :)

É preciso lata

Eu gostaria de saber desde quando é admissível que num formulário para arrendamento de casa se pergunte se estou a planear ter filhos num futuro próximo. Primeiro, o senhorio não tem nada a ver com isso. Segundo, se isso estivesse a ser planeado então não estaria a querer alugar um estúdio. Terceiro, espero sinceramente que essa pergunta seja mantida nos formulários dos candidatos masculinos (eles também têm filhos presumo). Por vezes na minha vida sinto remorsos por não ter estudado algo tão útil como Direito. Esta é uma dessas vezes.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Reino Pacifico



Este documentário é uma ternura. Pessoas assim, ainda mais dentro do sistema do que aqueles que apenas comem o que já vem em forma abstracta, o que, emocionalmente, os desliga mais facilmente dos processos de produção e da realidade, são extremamente raras. São pessoas com a capacidade e a coragem de serem diferentes e de lutar por aquilo em que acreditam dentro do coração, não apenas naquilo em que acreditam por convenções e formato socio-educacional.



Obrigada ntozei pela dica :) Resta esperar pela segunda parte "Peaceable Kingdom: The journey home", que recebeu o prémio de melhor documentário no Moondance Festival 2009, mas que só sairá em DVD para o ano.

Aqui poderão vê-lo com legendas em espanhol (mais fácil do que italiano).

Isto explica muita coisa

88% dos neurónios em áreas responsáveis por cognições complexas (high-level cognition) respondem da mesma forma quando imaginamos, comparando com o estimulo real visto pela retina!

Aqui

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A moda de Inverno são casacos vermelhos certo?

Das duas uma: ou este ano a moda são casacos vermelhos ou então o Universo está a enviar-me algum sinal misterioso, mais um daqueles que jamais saberei decifrar, do género dicionário dos sonhos. E das duas uma: ou os meus sonhos são diferentes de toda a gente ou os meus sonhos são fundamentalmente diferentes das pessoas que escrevem dicionários de sonhos.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Futuro da Alimentação

A técnica de marketing mais irónica que a biotecnologia industrial inteligentemente espalha é que existe para acabar com a fome no mundo (soa bonito não soa?). Isto quando os estudos demonstram sistematicamente que o problema da fome não é a falta de alimentos, mas sim o seu acesso, ou seja, a sua distribuição. E esse problema não só continua, como piora a cada ano que passa. Apesar das boas intenções que clamam ter, a biotecnologia criou uma tecnologia chamada Terminator Technology (Tecnologia Exterminadora). Esta tecnologia baseia-se num gene suicida introduzido nas sementes, para que após a primeira colheita, as sementes se "suicidem". Não se pode guardar a semente, porque a semente fica estéril e não germina. O que leva a uma total dependência à empresa fornecedora de sementes, um monopólio muito poderoso. Existem 15 patentes desta tecnologia "suicida" em empresas de países desenvolvidos. Conseguem imaginar o que acontecerá caso este gene suicida contamine as outras colheitas espalhadas pelo mundo? Nota: O co-proprietário do gene exterminador é o governo dos EUA.
Em desenvolvimento está também a Tecnologia Traidora que exige que o agricultor use um químico especifico na sua plantação, caso contrário as sementes não germinam. Um bom nome para a tecnologia em causa, não acham?

Uma das formas eficazes de lutar contra esta (o)pressão é assinar petições, enviar cartas aos governos, sempre que estes movimentos nos cheguem às mãos. Foi assim que o povo americano conseguiu protestar para que os alimentos orgânicos se mantivessem puros, sem transgénicos. Se não o tivessem feito, hoje em dia, os alimentos orgânicos nos EUA seriam também transgénicos. O problema é que a maioria das pessoas não tem estas informações, não são coisas que ocupem os telejornais ou as revistas e a pressão económica é, na minha experiência observadora, a maior pressionadora contra a verdade. Não nos podemos esquecer que nós, como consumidores/eleitores, temos o poder de mudar o rumo das coisas, mas temos mesmo que agir, não podemos ficar à espera que os outros o façam por nós, pois como ouvi um dia de uma amiga, "os outros somos nós".

Mais informação neste famoso documentário:



"We are loosing genetic diversity, we are loosing intelectual diversity"

(gostaria de agradecer ao excelente site da plataforma portuguesa por uma agricultura sustentável pela sua boa base de dados audiovisuais legendados em português)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Animais de laboratório


Undercover Investigation Reveals Kitten Deaths and Other Animal Suffering. Learn More.

Sou testemunha do desrespeito que se tem aos animais em algumas faculdades, não sei se em todas, mas naquelas por onde passei. Incrivelmente rodeada de pessoas inteligentes, por vezes, génios académicos, fui sempre uma voz solitária nos meus protestos. Para aprendermos sobre circuitos neuronais e impulsos eléctricos, sacrificavam-se ratos, um por cada três alunos. Verificava que uma sala daria à vontade para mais três alunos (pelo menos), o que pouparia a vida a cinco ratos. Mas não se dá valor à vida animal. Vi também colegas que desistiam de doutoramentos que envolviam macacos, por não aguentarem as questões morais que isso lhes impunha, e falavam das atrocidades desnecessárias a que assistiam. Requer muita coragem desistir de um doutoramento a meio. Vi muitos engolirem e conformar-se em nome da ambição. Vi também uma assistente muito zangada por ter que matar um porquinho da índia, só para termos uma aula sobre o sistema auditivo. Mas ao menos foi um porquinho da índia para a turma toda. Os porquinhos da índia devem sair mais caros. Tenho duas amigas chinesas médicas que me contam que na China treinavam as operações em cães mal anestesiados. Uma delas lembra as lágrimas amargas que lhe corriam pela cara enquanto operava um cão que acordou a meio da operação. Quis parar, mas os professores obrigaram-na a continuar sob pena de expulsão. Ela ainda chora quando pensa nos sons de agonia e dor. O cão morreu. Outra colega cortava as cabeças de pintainhos vivos com uma tesoura. Se lhe fazia impressão? Não, tinha que ser para acabar a tese de mestrado. Essa mesma salvou uns ratos de laboratório e levou-os para casa, depois de acabado o estágio. Foi para compensar os pintainhos. Outra, no fim de semana que sucedia à matança dos ratos, ficava em depressão. Esta matança mensal não levou a publicação e então mudou de laboratório. Quantos ratos? assim de cabeça perdeu a conta. Eu também já trabalhei com animais, adormecíamos os dois ao fim de semana, o rato dentro da máquina e eu, em frente ao computador, naquelas horas que durava a experiência mais monótona do mundo. Apaziguava-me ver os meus ratinhos sossegados por serem velhinhos (em idade de laboratório, que é uma vida curta) e ninguém lhes querer pôr eléctrodos às cores nos cérebros a sairem pelas cabeças, como via noutros ratinhos zombies de gaiolas vizinhas. Devíamos estar gratos a estes animais que se sacrificam contra a sua vontade para publicarmos artigos, subirmos nas carreiras, aprendermos anatomia e raramente, salvarmos vidas humanas. Sou a favor de regulamentos rigidos, fiscalização, responsabilização, sempre que se tratam de vidas. Não sou contra a experimentação animal, sou contra o que se faz em nome da ciência. Contra o desrespeito pela vida, seja esta de quem for.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Outros muros


"Ramchand Pakistani is derived from a true story concerning the accidental crossing of the Pakistan-Indian border during a period (June 2002) of extreme, war-like tension between the two countries by two members of a Pakistani Hindu family belonging to the 'untouchable' (Dalit) caste, and the extraordinary consequences of this unintended action upon the lives of a woman, a man, and their son.

The singular theme of the film is how a child from Pakistan aged eight years learns to cope with the trauma of forced separation from his mother while being held prisoner, along with his father in the jail of a country i.e. India, which is hostile to his own, while on the other side of the border, the wife-mother, devastated by their sudden disappearance builds a new chapter of her life, by her solitary struggle for sheer survival.

The film portrays the lives of a family that is at the bottom of a discriminatory religious ladder and an insensitive social system, which is nevertheless tolerant, inclusive and pluralist. The irony is compounded by the fact that such a family becomes hostage to the acrimonious political relationship between two neighbor-states poised on the brink of war."

"The film maintains a politically correct stance by not taking sides of either country (India or Pakistan), religion (Hindu or Muslim) or creed (untouchables or upper class) and has a very secular outlook. Also the narrative intentionally steers away from justifying the rights and wrongs of the legal system and has a peripheral approach to the imprisonment of the protagonists, thereby showing them as fall guys of fate."

domingo, 8 de novembro de 2009

Um Desaniversáriooo Feliiiiiiz!!!

Sou muito despassarada, distraída, enfim, um desastre. Foi assim que deixei passar o primeiro aniversário deste cantinho maluco. Mas é que nem percebo como é que já passou um ano, nem sei o que disse para aqui, nada de jeito, o que vale mesmo a pena são os posts da jellyfish e os documentários (o resto só vale a pena, mas não mesmo, mesmo a pena). Sério. Um ano a escrever muitas patetices, e uns excertos interessantes de outras pessoas, dessas que sabem o que dizem. Bom, mas como o objectivo era que as pessoas vissem os documentários, se isso resultou já fico contente (viram? viram?). E como já passou, aqui vai uma das minhas celebrações preferidas, daquelas que celebro sempre que ando menos distraída, hoje é dia de desaniversário do blog maluco Alice in My Head! Um Desaniversário Feliz para todos :-)

Um bom desaniversário para mim!

Para quem?

Para mim!

Para ti!

Um bom desaniversário para ti!

Para mim?

Para ti!

Oh sim!

Vamos cumprimentar-nos com uma chávena de chá!

Um desaniversáriooooo paaaraaaa tiiiiiii!


(...)

Entao hoje é o meu desaniversário!

Ai é?

Que coincidência!!!!!

Bem, nesse caso...um bom desaniversário!

Para mim?

Oh sim!

Um bom desaniversário!

Para mim?

Sim, sim!

Agora sopra a vela mas nao queimes o nariiiiz!

Um desaniversáriooooo feliiiiiiiz!!!!!!

sábado, 7 de novembro de 2009

recycled trash robots


Se fosses um rapaz

Por vezes conheço pessoas mulheres que me fazem ter pena de não serem pessoas homens. São tão fabulosas que só gostava de encontrar pessoas homens assim. No entanto, obviamente, raramente sinto isso em relação a pessoas homens. As pessoas homens são geralmente pessoas homens, e quando muito, e aqui as estrelinhas brilham, penso, ainda bem que és uma pessoa homem (excepto quando são pessoas homens gays e aí só penso "ora bolas").

Por outro lado, inúmeras vezes me têm dito, falas como um homem. Nunca percebi o que isso quer dizer (ou faco um esforço para nunca perceber). Os homens dizem-me isto, em tom de elogio, quando estou empolgada e envolvida numa qualquer discussão sobre politica ou história, ou, incrivelmente (é preciso muita lata) sobre livros. Acho ofensivo. Muito. Sinto-me como um preto se sentiria quando ao discutir politica, história, ou, incrivelmente (é preciso muita lata) livros, lhe dissessem falas como um branco. Talvez se não tivesse opinião, isso encaixasse mais nos seus "pré-conceitos". É pena. É pena que existam pessoas homens a sentir isto. Infelizmente, há muitas pessoas mulheres a sentir o mesmo. E destas pessoas mulheres também penso, é pena seres uma pessoa mulher.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Por vezes

o Miguel Sousa Tavares acerta mesmo na mouche:

"Podia ter acabado aí a sorte do homem, mas não. E, desta vez, sem que ele tenha sido tido ou achado, por pura sorte, descobriu-se que, mesmo depois de ter saído da CGD, conseguiu ser promovido ao escalão máximo de vencimento, no qual vencerá a sua tão merecida reforma, a seu tempo. Porque, como explicou fonte da "instituição" ao jornal "Público", é prática comum do "grupo" promover todos os seus administradores-quadros ao escalão máximo quando deixam de lá trabalhar. Fico feliz por saber que o banco público, onde os contribuintes injectaram nos últimos seis meses mil milhões de euros para, entre outros coisas, cobrir os riscos do dinheiro emprestado ao sr. comendador Berardo para ele lançar um raide sobre o BCP, onde se pratica actualmente o maior spread no crédito à habitação, tem uma política tão generosa de recompensa aos seus administradores - mesmo que por lá não tenham passado mais do que um par de anos. Ah, se todas as empresas, públicas e privadas, fossem assim, isto seria verdadeiramente o paraíso dos trabalhadores!

Eu bem tento sorrir apenas e encarar estas coisas de forma leve. Mas o 'factor Vara' deixa-me vagamente deprimido. Penso em tantos e tantos jovens com carreiras académicas de mérito e esforço, cujos pais se mataram a trabalhar para lhes pagar estudos e que hoje concorrem a lugares de carteiros nos CTT ou de vendedores porta a porta e, não sei porquê, sinto-me deprimido. Este país não é para todos."

Ler o resto aqui, no Expresso online.

(Obrigada Sonia por me alertares para esta excelente crónica :) )

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O único filme lamechas

em que não pensei "meu querido dinheirinho".

Lições na minha vida #2

3. Há excepções à lição 2: as pessoas "mea culpa". São poucas, mas existem. Tenho uma amiga americana com quem fui pela primeira vez a um lago no raro acontecimento que é o Verão na Alemanha. Quando cheguei ao lago fiquei apreensiva por este ter patos. Fiquei a pensar se havia de nadar num sitio em que os patos faziam as suas naturais necessidades, aquilo não era o Oceano, eram águas paradas, enfim, pensamentos patetas que me passaram pela cabeça. Hesitei antes de me enfiar na água e disse à minha amiga, não sabia que isto tinha patos. E ela respondeu "desculpa", "desculpa, os lagos têm patos, desculpa-me". Eu abracei-a, disse-lhe "não sei se te desculpo pelos lagos terem patos" e ri-me muito. Há excepções à regra, são as pessoas "mea culpa".

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lições na minha vida

1. As coisas nem sempre são o que parecem, mas são muito mais o que parecem do que o contrário. A questão está na aptidão para ver as coisas como elas são, e, acima de tudo, na capacidade de acreditar no que se vê.

2. Quando alguém nos conta algo comprometedor sobre si, como uma infidelidade, uma inveja, uma culpa, podemos acrescentar, à vontade, três vezes mais ao que escutamos. Sem hesitações, porque a verdade é, nestes casos, sempre pior do que o que nos contam.

Gosto de pessoas sem tretas

Doris Lessing quando recebeu a noticia do prémio Nobel 2007:



E, só por isto, o livro dela (Under My Skin) que comprei em Londres, já subiu de lugar na "lista de livros para ler".
Noutra entrevista ouvi dela a expressão "hysterical rubbish" que achei deliciosa. "Hysterical rubbish" faz sem dúvida parte do status quo do mundo de hoje (embora ela falasse de outros tempos). Lembra-me o actual jornalismo português, alguns canais de televisão, e um incendiar consequente das mentes menos criticas. Tudo muito cheio de "hysterical rubbish". Expressão deliciosa, sim senhora.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Reflexão para hoje

(...)
Pois, os chineses e os indianos mudaram a sua dieta alimentar. Mas isso não é uma boa notícia? E depois há as colheitas catastróficas, resultado das alterações climáticas. E isto é dito como se as ditas alterações do clima fossem culpa do clima, ele próprio. Não, que hoje regressem as sublevações da fome no Egipto, no México, na Índia, em Moçambique ou no Haiti não é obra do divino espírito santo; que mais de 30 países estejam à beira do colapso alimentar não é um “desastre natural”. E muito menos uma realidade inexplicável.

Veja-se o caso do Haiti. Há 20 anos era um país auto-suficiente em arroz, a preços razoáveis. Em 1995, o FMI impôs um plano de liberalização económica, com desarmamento alfandegário drástico. O mercado haitiano foi invadido por arroz proveniente dos Estados Unidos e altamente subsidiado. Resultado: hoje o Haiti importa 80% do arroz que consome e ao dobro do preço anterior.

Este é, por isso, um tempo para aprender lições e não as esquecer.

A primeira é que sempre esteve errado o credo desenvolvimentista assente na destruição da pequena e média agricultura de subsistência e na sua substituição pela produção intensiva para exportação. O dogma do comércio livre que, na prática, funciona como liberalização unilateral a adoptar pelos mais pobres e exportação em massa dos excedentes subsidiados pelos mais ricos só ajudou a pôr essa falência em evidência, se necessário era.

A segunda lição é que, de facto, o capitalismo não tem fronteiras. Só que, desta vez, as fronteiras que desapareceram foram as da decência mínima: se for preciso condenar milhões à fome para obter ganhos na bolsa, não há que hesitar. Sobretudo se esses ganhos forem suficientemente tentadores para o capital financeiro poder compensar as perdas do subprime.

Terceira lição: é claro que a fome exige medidas de urgência. Quando o Presidente do Banco Mundial avisa que os preços dos produtos agrícolas vão continuar a subir durante os próximos 7 anos, ele sabe que não será nunca em menos do que isso que se corrigirão as causas profundas da dinâmica galopante da vulnerabilidade alimentar no mundo, sobretudo no mundo pobre.

Mas atenção às armadilhas: foi sempre em nome da urgência – e da salvação dos pobres, pois claro – que se decretaram os choques liberalizadores, a extinção das agriculturas tradicionais e outras modernizações civilizadoras. Como é alegadamente em nome da urgência – e da salvação do planeta, pois claro – que Sócrates quer ser o campeão europeu da incorporação de bio-combustíveis nos transportes, mesmo que à custa do incentivo perverso dado – prometeu ele – a Angola e a Moçambique para serem os nossos fornecedores.

Se algo de positivo há nesta ameaça de catástrofe é ela forçar-nos a repensarmos a pequena e média agricultura como uma prioridade e não como um anacronismo. Talvez esteja na altura de percebermos que a luta pela preservação das hortas no centro das nossas cidades e a luta contra a liberalização mundial do comércio dos produtos agrícolas nos termos em que a quer a OMC não são lutas simétricas mas gémeas.

José Manuel Pureza"

José Manuel Pureza é professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e especialista em Relações Internacionais. O texto foi escrito a pedido de Daniel Oliveira (tema: a crise alimentar no mundo), publicado em Maio de 2008, para o Arrastão.

sábado, 31 de outubro de 2009

tragic story with happy ending

Here is Regina Pessoa's amazing "História Trágica Com Final Feliz" (2005). It tells the story of a young girl who doesn't fit in the small town life because she is different from everybody else: She has a tiny heart, which has to beat a lot louder than anyone else's. Unfortunatelly, it beats so loud that it disturbs everyone else.


The short film has won many prizes, notably The Annecy Cristal Award International Animated Film Festival in 2006. I especially like the part at the end, where the credits appear and fragments of the empty life of the townspeople is illustrated. The story is not as powerful without that.

Visit the website of the National Film Board of Canada, where you can also purchase the DVD and find interviews with the artist, wallpapers and other goodies.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ninguém tem pena

Ninguém tem pena de uma borboleta, de insectos desajeitados que por grande azar das suas vidas nos entram pela casa dentro e lá andam a esvoaçar apavorados batendo contra paredes, vidros e, no pior dos casos, lâmpadas acesas a ferver. E eu lá ando de frasco na mão a tentar apanhar a borboleta que muito assustada e sem forças embirra em cair para trás de móveis, para cima do roupeiro, para baixo da cama. Bichinha, é como eu lhe chamo, bichinha vem cá, deixa-te apanhar. Deixa-me restituir-te a liberdade. Mas ela não entende português, é alemã, e o meu alemão, jesus, não chega para falar com borboletas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Eu estou aqui

Estou exactamente a 91 cm de mim.

Skhizein (Jérémy Clapin,2008) from Stephen Dedalus on Vimeo.


Skhizein foi realizado por Jérémy Clapin e ganhou uma lista incrível de prémios. Muito bem merecidos.
Aqui o site oficial de Skhizein.

O fundo da linha



Fiquei a par da recente campanha da greenpeace Portugal graças à sua divulgação no blog Sustentabilidade não é Palavra é Acção. Peço-vos para irem ao site da greenpeace (clicar no link acima) e pedir aos supermercados que assumam as suas responsabilidades garantindo que não vendem espécies capturadas a grande profundidade em alto mar. A pesca industrial é destruidora do planeta e não é sustentável.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Só tenho a dizer isto

Quanto à polémica do Saramago e o que ele disse e a Bíblia e as telenovelas: não há pachorra para cabeças beatas.

O mal de Portugal são as cabeças beatas.

domingo, 25 de outubro de 2009

Hoje sonhei com um amor antigo

E doeu. Doeu porque foi um sonho. Sonhei que o reencontrava, um geólogo a trabalhar sabe-se lá porque carga de água na Zara (adoro sonhos surreais). E abraçamo-nos. E dissemos o quanto estávamos felizes de nos termos reencontrado. E lamentámos termos perdido os contactos um do outro (esta parte é infelizmente real). E fomos tão felizes, só queríamos estar juntos, riamos com os olhos, adoro isso. A felicidade do reencontro foi tão real que só de me lembrar, sinto um calor no coração e sorrio. Não queria acordar. Aliás, para mim aquela era a realidade.

Isto, até o meu pai entrar na historia como capitão de um ferry e eu ver na sua expressão uma certa indignação de questionamento quanto ao meu suposto namorado alemão (nem nos sonhos o meu pai sabe os pormenores do que se passa comigo). O engraçado é que tudo isto já aconteceu, de alguma forma, na minha vida. Com pai e tudo.