segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mulheres bateristas

Muito a propósito do perigo de uma única história encontrei no Jellyfish Tales este pequeno documento sobre jovens bateristas chinesas que adorei. Gosto de pessoas que não caiem nas convenções que nos obrigam a pertencer, seja nas suas acções, seja nas suas cabeças. Por vezes, a vida lá nos vai obrigando a seguir aquilo que todos esperam de nós e, a partir de uma certa altura, há quem deixe de se questionar e se entregue. Há quem nunca se questione. Mas seria bom que entendêssemos que não vamos viver para sempre, não podemos adiar a vida que queremos viver, nem as pessoas que queremos ser. E é isso que adoro em tantos jovens, vivem hoje para hoje, fazem hoje o que querem e não deixam para quando ahhh conseguir a promoção, acabar o curso, o doutoramento, pagar a casa, o carro, a tv e o cabo, talvez para o ano, talvez daqui a cinco anos. Talvez nunca meus queridos. Agarrem as vossas paixões, não desistam, inspirem-se nestas histórias de mulheres chinesas, bateristas cheias de talento e que são muito engraçadas.


domingo, 29 de novembro de 2009

Para a próxima

Depois de escrever o post anterior (que foi escrito na biblioteca, claro está, tal não é a concentração nos artigos interessantíssimos que tenho para ler) voltei a ver o senhor alto da biblioteca. Ele voltou a olhar para mim e iniciou aquele jeito na cara que me faz pensar em sorriso. Mas foi porque escrevi o post, que resolvi sorrir-lhe de volta, fosse esgar ou trejeito de expressão, who cares. Toda a sua cara se iluminou, e, realmente, aquele esgar rasgou-se num sorriso feliz de cumprimento que eu, oh céus, vi apenas de fugida, porque desviei logo o olhar. O que é que querem, fui apanhada de surpresa, e de repente achei estranho toda aquela luminosidade na cara do senhor, fiquei com receio que ele fosse pensar coisas estranhas, como o Sr. José costumava pensar também. As patetices que passam numa cabeça tímida, que está incrivelmente aborrecida (já li todas as mensagens escritas na parede em frente). Pronto, para a próxima, já lhe retribuirei um sorriso cumprimento, daqueles seguros e sem embaraços. Isto, porque escrevi este post. Escrever posts é terapêutico.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O perigo de uma única história

Chimamanda Adichie explica claramente o perigo dos preconceitos. Aplica-se bem a muitos preconceitos, senão a todos. O que ela descreve, sinto quando falo com pessoas sobre os meus amigos indianos e chineses, pessoas que não têm amigos indianos ou chineses, nem nunca viveram nestes países (visitar não vale), mas que se acham perfeitos entendedores do que é um chinês ou um indiano, antes mesmo de os conhecerem, países tão ricos e diversos nas suas culturas milenares e regionais, e maiores que qualquer país europeu. O mais estranho é que, para muitas destas pessoas, nem lhes interessa conhecer a pessoa, pois já têm nas suas cabeças o preconceito formatado. Têm nas suas cabeças uma única história. Assim me sinto também quando ouço que as mulheres são todas assim e os homens são todos assado, ou que as mulheres é que são assim e os homens é que são assado. Mas pior, pior, é quando me tentam encaixar nos seus preconceitos. Como não me encaixo nessas histórias formatadas, nesses preconceitos em que temos que supostamente de caber, entendo profundamente o que Chimamanda quer dizer. Há um factor que nos molda o cérebro, que é a cultura, mas mesmo dentro da cultura, a minha é a portuguesa, sou fundamentalmente diferente de milhões de outros portugueses. Acreditem. Eu não sou uma única história, sou muitas. E, a partir de hoje, é isso que vou responder sempre que me tentarem encaixar nas suas ideias limitadas do que é uma pessoa :) Vejam, porque vale mesmo a pena.
(para pôr legendas em português, é só escolher na opção View Subtitles)



Através do excelente blog Montão de Coisas

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma história de guerra

Kseniya Simonova utiliza a técnica "animação de areia" para expressar a sua interpretação do sofrimento do povo Ucraniano na segunda guerra mundial, durante a qual se estima a morte de 8 a 11 milhões de ucranianos. Gosto muito de animações de areia, há uns anos ainda me correspondi com ILana Yahav, uma artista israelita que percorre o mundo com os seus shows de areia, mas Simonova apresenta uma das performances mais poderosas que já vi. Com esta animação ela ganhou o concurso televisivo "Ukraine's got talent" deste ano.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

tim burton on wearing striped socks


We have posted before on Tim Burton's restrospective at New York's MoMA, which features well over 700 paintings, drawings, photos, puppets, costumes, story boards, short films, and slideshows. Watch a video below, where the master himself shares with us some of his thoughts on drawing, movies, childhood, normality...and striped socks:


the girl effect


The Girl Effect is about girls. And boys. And moms and dads and villages and towns and countries.

Se soubesse escrever

Claro que sim, gostava de escrever um livro, se soubesse escrever. Falaria por exemplo do senhor da biblioteca. Daquele senhor alto que empurra o carrinho cheio de livros, revistas e jornais científicos. Aquele que olha para mim com um meio sorriso e a quem eu não correspondo, porque não percebo se é um sorriso ou se é apenas um esgar, um trejeito de expressão, um default mode. Justifico-me na minha incerteza cobarde. O senhor que vive em silêncio, anda em silêncio, coloca os livros lentamente nos seus lugares e sorri aos utentes usuais da biblioteca, que raramente lhe sorriem de volta. Escreveria sobre ele, sobre pessoas como ele. Pessoas que vivem em silêncio. Que trabalham em solidão. Que me lembram o querido Sr. José do livro “Todos os Nomes” do Saramago.

Escreveria sobre aquela senhora do documentário “Reino Pacifico”, a que sente uma empatia especial pelos animais que sofrem, que com o seu amor inspira todos à sua volta, que chora ao contar sobre o borrego que não conseguiu salvar, que ri ao observar as galinhas depenadas e desajeitadas a darem os primeiros passos na liberdade, depois de serem salvas. Que conseguiu, com este seu amor, construir uma quinta para onde leva animais que resgata dos campos de concentração da industria alimentar. Aliás, nem só escreveria, se fosse homem pedia-a em casamento.

Ou então sobre o dono da mercearia da esquina, um local em vias de extinção. Escreveria sobre como ele me sorri, claramente, e eu sorrio de volta a cumprimentá-lo. Aquele senhor que, teimosamente, não se deixa vergar pelas grandes superfícies, nem pelos franchisings. Aquele que me deve rogar pragas por nunca lá ter posto os pés, apesar de o cumprimentar educadamente, porque não sabe que sou tímida e o meu alemão é um suplicio e que transpiro só de pensar em ter que manter uma conversa nessa língua. Aquele que põe banquinhos à porta da mercearia, para os velhotes se sentarem a conversar. O único que se preocupa com aquele senhor na cadeira de rodas, muito sujo e barba imunda, deixa-o ficar ao pé dos banquinhos, um senhor com um ar muito triste, olhos muito azuis que nos inspeccionam a alma quando passamos. Aquele que remodelou a sua lojinha, acrescentou-lhe uma vitrina, que fica à porta à espera de clientes, a olhar as pessoas. A ver-me a mim passar e nunca lá entrar. Até me dói a cabeça só de pensar nisto, imagine-se se escrevesse um livro.

Escreveria sobre pessoas como a Maria, tentaria entrar na cabeça delas, no vazio das suas vidas, na pequenez dos seus interesses, nos preconceitos que as inundam, nas contradições daqueles cérebros. Ai os chineses, ai os indianos, pretos credo socorro, ai que cheiro, ai o raio do cão, ai o raio do gato, ai aqueles cachorrinhos que lindoooss. As Danielle Steel e as Nora Roberts que enchem as suas prateleiras, as telenovelas que vêm, as telenovelas que fazem. O veneno doce que espalham.

Desenhar como as crianças


Jonny Wan através do excelente blog Jellyfish Tales.

Desenhos de crianças sobre "A tia Árvore" no blog Ler, Escrever, Imaginar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

days with my father


Phillip Toledano is a very talented photographer. He has recently signed a book deal for his online project "Days With My Father". This project documents in photographs and words the moments the artist spends with his 98 year old father, who suffers from a short-term memory impairment. I love everything about this project. Its beauty, honesty, simplicity.

NOTHING cheers up my dad, like stories of my success. So if he's down, or obsessing about something, I'll immediately conjure up a blossoming career. I'm shooting for the New York Times. The New Yorker. Multi-million dollar advertising campaigns. Sometimes it's true, sometimes it's not. But it doesn't matter. The important thing is to fill him with as much joy as I can. His face bursts with happiness. He'll say "I have to tell ALL my friends, my son is famous!".

A excepção

Este ano resolvi acabar com o folclore das prendas de Natal. Não dou e não quero que me dêem.

Isto até ter recebido a noticia do lançamento do livro "Caderno de Memórias Coloniais" da Isabela Figueiredo, a escritora do blog Novo Mundo Perfeito. É assim que se quebram compromissos e acordos (ouvi dizer). Porque este é um livro que vou ter que dar a muita gente ("ter que dar" é mesmo a expressão correcta, pois ela escreve lindamente e há memórias que não podem ser esquecidas).


Angelus Novus, o site da editora onde se pode adquirir o livro online.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ando à procura de casa


... e acho que me vou mudar para Almancil, soa-me a boa gente :)

É preciso lata

Eu gostaria de saber desde quando é admissível que num formulário para arrendamento de casa se pergunte se estou a planear ter filhos num futuro próximo. Primeiro, o senhorio não tem nada a ver com isso. Segundo, se isso estivesse a ser planeado então não estaria a querer alugar um estúdio. Terceiro, espero sinceramente que essa pergunta seja mantida nos formulários dos candidatos masculinos (eles também têm filhos presumo). Por vezes na minha vida sinto remorsos por não ter estudado algo tão útil como Direito. Esta é uma dessas vezes.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Reino Pacifico



Este documentário é uma ternura. Pessoas assim, ainda mais dentro do sistema do que aqueles que apenas comem o que já vem em forma abstracta, o que, emocionalmente, os desliga mais facilmente dos processos de produção e da realidade, são extremamente raras. São pessoas com a capacidade e a coragem de serem diferentes e de lutar por aquilo em que acreditam dentro do coração, não apenas naquilo em que acreditam por convenções e formato socio-educacional.



Obrigada ntozei pela dica :) Resta esperar pela segunda parte "Peaceable Kingdom: The journey home", que recebeu o prémio de melhor documentário no Moondance Festival 2009, mas que só sairá em DVD para o ano.

Aqui poderão vê-lo com legendas em espanhol (mais fácil do que italiano).

Isto explica muita coisa

88% dos neurónios em áreas responsáveis por cognições complexas (high-level cognition) respondem da mesma forma quando imaginamos, comparando com o estimulo real visto pela retina!

Aqui

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A moda de Inverno são casacos vermelhos certo?

Das duas uma: ou este ano a moda são casacos vermelhos ou então o Universo está a enviar-me algum sinal misterioso, mais um daqueles que jamais saberei decifrar, do género dicionário dos sonhos. E das duas uma: ou os meus sonhos são diferentes de toda a gente ou os meus sonhos são fundamentalmente diferentes das pessoas que escrevem dicionários de sonhos.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Futuro da Alimentação

A técnica de marketing mais irónica que a biotecnologia industrial inteligentemente espalha é que existe para acabar com a fome no mundo (soa bonito não soa?). Isto quando os estudos demonstram sistematicamente que o problema da fome não é a falta de alimentos, mas sim o seu acesso, ou seja, a sua distribuição. E esse problema não só continua, como piora a cada ano que passa. Apesar das boas intenções que clamam ter, a biotecnologia criou uma tecnologia chamada Terminator Technology (Tecnologia Exterminadora). Esta tecnologia baseia-se num gene suicida introduzido nas sementes, para que após a primeira colheita, as sementes se "suicidem". Não se pode guardar a semente, porque a semente fica estéril e não germina. O que leva a uma total dependência à empresa fornecedora de sementes, um monopólio muito poderoso. Existem 15 patentes desta tecnologia "suicida" em empresas de países desenvolvidos. Conseguem imaginar o que acontecerá caso este gene suicida contamine as outras colheitas espalhadas pelo mundo? Nota: O co-proprietário do gene exterminador é o governo dos EUA.
Em desenvolvimento está também a Tecnologia Traidora que exige que o agricultor use um químico especifico na sua plantação, caso contrário as sementes não germinam. Um bom nome para a tecnologia em causa, não acham?

Uma das formas eficazes de lutar contra esta (o)pressão é assinar petições, enviar cartas aos governos, sempre que estes movimentos nos cheguem às mãos. Foi assim que o povo americano conseguiu protestar para que os alimentos orgânicos se mantivessem puros, sem transgénicos. Se não o tivessem feito, hoje em dia, os alimentos orgânicos nos EUA seriam também transgénicos. O problema é que a maioria das pessoas não tem estas informações, não são coisas que ocupem os telejornais ou as revistas e a pressão económica é, na minha experiência observadora, a maior pressionadora contra a verdade. Não nos podemos esquecer que nós, como consumidores/eleitores, temos o poder de mudar o rumo das coisas, mas temos mesmo que agir, não podemos ficar à espera que os outros o façam por nós, pois como ouvi um dia de uma amiga, "os outros somos nós".

Mais informação neste famoso documentário:



"We are loosing genetic diversity, we are loosing intelectual diversity"

(gostaria de agradecer ao excelente site da plataforma portuguesa por uma agricultura sustentável pela sua boa base de dados audiovisuais legendados em português)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Animais de laboratório


Undercover Investigation Reveals Kitten Deaths and Other Animal Suffering. Learn More.

Sou testemunha do desrespeito que se tem aos animais em algumas faculdades, não sei se em todas, mas naquelas por onde passei. Incrivelmente rodeada de pessoas inteligentes, por vezes, génios académicos, fui sempre uma voz solitária nos meus protestos. Para aprendermos sobre circuitos neuronais e impulsos eléctricos, sacrificavam-se ratos, um por cada três alunos. Verificava que uma sala daria à vontade para mais três alunos (pelo menos), o que pouparia a vida a cinco ratos. Mas não se dá valor à vida animal. Vi também colegas que desistiam de doutoramentos que envolviam macacos, por não aguentarem as questões morais que isso lhes impunha, e falavam das atrocidades desnecessárias a que assistiam. Requer muita coragem desistir de um doutoramento a meio. Vi muitos engolirem e conformar-se em nome da ambição. Vi também uma assistente muito zangada por ter que matar um porquinho da índia, só para termos uma aula sobre o sistema auditivo. Mas ao menos foi um porquinho da índia para a turma toda. Os porquinhos da índia devem sair mais caros. Tenho duas amigas chinesas médicas que me contam que na China treinavam as operações em cães mal anestesiados. Uma delas lembra as lágrimas amargas que lhe corriam pela cara enquanto operava um cão que acordou a meio da operação. Quis parar, mas os professores obrigaram-na a continuar sob pena de expulsão. Ela ainda chora quando pensa nos sons de agonia e dor. O cão morreu. Outra colega cortava as cabeças de pintainhos vivos com uma tesoura. Se lhe fazia impressão? Não, tinha que ser para acabar a tese de mestrado. Essa mesma salvou uns ratos de laboratório e levou-os para casa, depois de acabado o estágio. Foi para compensar os pintainhos. Outra, no fim de semana que sucedia à matança dos ratos, ficava em depressão. Esta matança mensal não levou a publicação e então mudou de laboratório. Quantos ratos? assim de cabeça perdeu a conta. Eu também já trabalhei com animais, adormecíamos os dois ao fim de semana, o rato dentro da máquina e eu, em frente ao computador, naquelas horas que durava a experiência mais monótona do mundo. Apaziguava-me ver os meus ratinhos sossegados por serem velhinhos (em idade de laboratório, que é uma vida curta) e ninguém lhes querer pôr eléctrodos às cores nos cérebros a sairem pelas cabeças, como via noutros ratinhos zombies de gaiolas vizinhas. Devíamos estar gratos a estes animais que se sacrificam contra a sua vontade para publicarmos artigos, subirmos nas carreiras, aprendermos anatomia e raramente, salvarmos vidas humanas. Sou a favor de regulamentos rigidos, fiscalização, responsabilização, sempre que se tratam de vidas. Não sou contra a experimentação animal, sou contra o que se faz em nome da ciência. Contra o desrespeito pela vida, seja esta de quem for.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Outros muros


"Ramchand Pakistani is derived from a true story concerning the accidental crossing of the Pakistan-Indian border during a period (June 2002) of extreme, war-like tension between the two countries by two members of a Pakistani Hindu family belonging to the 'untouchable' (Dalit) caste, and the extraordinary consequences of this unintended action upon the lives of a woman, a man, and their son.

The singular theme of the film is how a child from Pakistan aged eight years learns to cope with the trauma of forced separation from his mother while being held prisoner, along with his father in the jail of a country i.e. India, which is hostile to his own, while on the other side of the border, the wife-mother, devastated by their sudden disappearance builds a new chapter of her life, by her solitary struggle for sheer survival.

The film portrays the lives of a family that is at the bottom of a discriminatory religious ladder and an insensitive social system, which is nevertheless tolerant, inclusive and pluralist. The irony is compounded by the fact that such a family becomes hostage to the acrimonious political relationship between two neighbor-states poised on the brink of war."

"The film maintains a politically correct stance by not taking sides of either country (India or Pakistan), religion (Hindu or Muslim) or creed (untouchables or upper class) and has a very secular outlook. Also the narrative intentionally steers away from justifying the rights and wrongs of the legal system and has a peripheral approach to the imprisonment of the protagonists, thereby showing them as fall guys of fate."

domingo, 8 de novembro de 2009

Um Desaniversáriooo Feliiiiiiz!!!

Sou muito despassarada, distraída, enfim, um desastre. Foi assim que deixei passar o primeiro aniversário deste cantinho maluco. Mas é que nem percebo como é que já passou um ano, nem sei o que disse para aqui, nada de jeito, o que vale mesmo a pena são os posts da jellyfish e os documentários (o resto só vale a pena, mas não mesmo, mesmo a pena). Sério. Um ano a escrever muitas patetices, e uns excertos interessantes de outras pessoas, dessas que sabem o que dizem. Bom, mas como o objectivo era que as pessoas vissem os documentários, se isso resultou já fico contente (viram? viram?). E como já passou, aqui vai uma das minhas celebrações preferidas, daquelas que celebro sempre que ando menos distraída, hoje é dia de desaniversário do blog maluco Alice in My Head! Um Desaniversário Feliz para todos :-)

Um bom desaniversário para mim!

Para quem?

Para mim!

Para ti!

Um bom desaniversário para ti!

Para mim?

Para ti!

Oh sim!

Vamos cumprimentar-nos com uma chávena de chá!

Um desaniversáriooooo paaaraaaa tiiiiiii!


(...)

Entao hoje é o meu desaniversário!

Ai é?

Que coincidência!!!!!

Bem, nesse caso...um bom desaniversário!

Para mim?

Oh sim!

Um bom desaniversário!

Para mim?

Sim, sim!

Agora sopra a vela mas nao queimes o nariiiiz!

Um desaniversáriooooo feliiiiiiiz!!!!!!

sábado, 7 de novembro de 2009

recycled trash robots


Se fosses um rapaz

Por vezes conheço pessoas mulheres que me fazem ter pena de não serem pessoas homens. São tão fabulosas que só gostava de encontrar pessoas homens assim. No entanto, obviamente, raramente sinto isso em relação a pessoas homens. As pessoas homens são geralmente pessoas homens, e quando muito, e aqui as estrelinhas brilham, penso, ainda bem que és uma pessoa homem (excepto quando são pessoas homens gays e aí só penso "ora bolas").

Por outro lado, inúmeras vezes me têm dito, falas como um homem. Nunca percebi o que isso quer dizer (ou faco um esforço para nunca perceber). Os homens dizem-me isto, em tom de elogio, quando estou empolgada e envolvida numa qualquer discussão sobre politica ou história, ou, incrivelmente (é preciso muita lata) sobre livros. Acho ofensivo. Muito. Sinto-me como um preto se sentiria quando ao discutir politica, história, ou, incrivelmente (é preciso muita lata) livros, lhe dissessem falas como um branco. Talvez se não tivesse opinião, isso encaixasse mais nos seus "pré-conceitos". É pena. É pena que existam pessoas homens a sentir isto. Infelizmente, há muitas pessoas mulheres a sentir o mesmo. E destas pessoas mulheres também penso, é pena seres uma pessoa mulher.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Por vezes

o Miguel Sousa Tavares acerta mesmo na mouche:

"Podia ter acabado aí a sorte do homem, mas não. E, desta vez, sem que ele tenha sido tido ou achado, por pura sorte, descobriu-se que, mesmo depois de ter saído da CGD, conseguiu ser promovido ao escalão máximo de vencimento, no qual vencerá a sua tão merecida reforma, a seu tempo. Porque, como explicou fonte da "instituição" ao jornal "Público", é prática comum do "grupo" promover todos os seus administradores-quadros ao escalão máximo quando deixam de lá trabalhar. Fico feliz por saber que o banco público, onde os contribuintes injectaram nos últimos seis meses mil milhões de euros para, entre outros coisas, cobrir os riscos do dinheiro emprestado ao sr. comendador Berardo para ele lançar um raide sobre o BCP, onde se pratica actualmente o maior spread no crédito à habitação, tem uma política tão generosa de recompensa aos seus administradores - mesmo que por lá não tenham passado mais do que um par de anos. Ah, se todas as empresas, públicas e privadas, fossem assim, isto seria verdadeiramente o paraíso dos trabalhadores!

Eu bem tento sorrir apenas e encarar estas coisas de forma leve. Mas o 'factor Vara' deixa-me vagamente deprimido. Penso em tantos e tantos jovens com carreiras académicas de mérito e esforço, cujos pais se mataram a trabalhar para lhes pagar estudos e que hoje concorrem a lugares de carteiros nos CTT ou de vendedores porta a porta e, não sei porquê, sinto-me deprimido. Este país não é para todos."

Ler o resto aqui, no Expresso online.

(Obrigada Sonia por me alertares para esta excelente crónica :) )

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O único filme lamechas

em que não pensei "meu querido dinheirinho".

Lições na minha vida #2

3. Há excepções à lição 2: as pessoas "mea culpa". São poucas, mas existem. Tenho uma amiga americana com quem fui pela primeira vez a um lago no raro acontecimento que é o Verão na Alemanha. Quando cheguei ao lago fiquei apreensiva por este ter patos. Fiquei a pensar se havia de nadar num sitio em que os patos faziam as suas naturais necessidades, aquilo não era o Oceano, eram águas paradas, enfim, pensamentos patetas que me passaram pela cabeça. Hesitei antes de me enfiar na água e disse à minha amiga, não sabia que isto tinha patos. E ela respondeu "desculpa", "desculpa, os lagos têm patos, desculpa-me". Eu abracei-a, disse-lhe "não sei se te desculpo pelos lagos terem patos" e ri-me muito. Há excepções à regra, são as pessoas "mea culpa".

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lições na minha vida

1. As coisas nem sempre são o que parecem, mas são muito mais o que parecem do que o contrário. A questão está na aptidão para ver as coisas como elas são, e, acima de tudo, na capacidade de acreditar no que se vê.

2. Quando alguém nos conta algo comprometedor sobre si, como uma infidelidade, uma inveja, uma culpa, podemos acrescentar, à vontade, três vezes mais ao que escutamos. Sem hesitações, porque a verdade é, nestes casos, sempre pior do que o que nos contam.

Gosto de pessoas sem tretas

Doris Lessing quando recebeu a noticia do prémio Nobel 2007:



E, só por isto, o livro dela (Under My Skin) que comprei em Londres, já subiu de lugar na "lista de livros para ler".
Noutra entrevista ouvi dela a expressão "hysterical rubbish" que achei deliciosa. "Hysterical rubbish" faz sem dúvida parte do status quo do mundo de hoje (embora ela falasse de outros tempos). Lembra-me o actual jornalismo português, alguns canais de televisão, e um incendiar consequente das mentes menos criticas. Tudo muito cheio de "hysterical rubbish". Expressão deliciosa, sim senhora.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Reflexão para hoje

(...)
Pois, os chineses e os indianos mudaram a sua dieta alimentar. Mas isso não é uma boa notícia? E depois há as colheitas catastróficas, resultado das alterações climáticas. E isto é dito como se as ditas alterações do clima fossem culpa do clima, ele próprio. Não, que hoje regressem as sublevações da fome no Egipto, no México, na Índia, em Moçambique ou no Haiti não é obra do divino espírito santo; que mais de 30 países estejam à beira do colapso alimentar não é um “desastre natural”. E muito menos uma realidade inexplicável.

Veja-se o caso do Haiti. Há 20 anos era um país auto-suficiente em arroz, a preços razoáveis. Em 1995, o FMI impôs um plano de liberalização económica, com desarmamento alfandegário drástico. O mercado haitiano foi invadido por arroz proveniente dos Estados Unidos e altamente subsidiado. Resultado: hoje o Haiti importa 80% do arroz que consome e ao dobro do preço anterior.

Este é, por isso, um tempo para aprender lições e não as esquecer.

A primeira é que sempre esteve errado o credo desenvolvimentista assente na destruição da pequena e média agricultura de subsistência e na sua substituição pela produção intensiva para exportação. O dogma do comércio livre que, na prática, funciona como liberalização unilateral a adoptar pelos mais pobres e exportação em massa dos excedentes subsidiados pelos mais ricos só ajudou a pôr essa falência em evidência, se necessário era.

A segunda lição é que, de facto, o capitalismo não tem fronteiras. Só que, desta vez, as fronteiras que desapareceram foram as da decência mínima: se for preciso condenar milhões à fome para obter ganhos na bolsa, não há que hesitar. Sobretudo se esses ganhos forem suficientemente tentadores para o capital financeiro poder compensar as perdas do subprime.

Terceira lição: é claro que a fome exige medidas de urgência. Quando o Presidente do Banco Mundial avisa que os preços dos produtos agrícolas vão continuar a subir durante os próximos 7 anos, ele sabe que não será nunca em menos do que isso que se corrigirão as causas profundas da dinâmica galopante da vulnerabilidade alimentar no mundo, sobretudo no mundo pobre.

Mas atenção às armadilhas: foi sempre em nome da urgência – e da salvação dos pobres, pois claro – que se decretaram os choques liberalizadores, a extinção das agriculturas tradicionais e outras modernizações civilizadoras. Como é alegadamente em nome da urgência – e da salvação do planeta, pois claro – que Sócrates quer ser o campeão europeu da incorporação de bio-combustíveis nos transportes, mesmo que à custa do incentivo perverso dado – prometeu ele – a Angola e a Moçambique para serem os nossos fornecedores.

Se algo de positivo há nesta ameaça de catástrofe é ela forçar-nos a repensarmos a pequena e média agricultura como uma prioridade e não como um anacronismo. Talvez esteja na altura de percebermos que a luta pela preservação das hortas no centro das nossas cidades e a luta contra a liberalização mundial do comércio dos produtos agrícolas nos termos em que a quer a OMC não são lutas simétricas mas gémeas.

José Manuel Pureza"

José Manuel Pureza é professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e especialista em Relações Internacionais. O texto foi escrito a pedido de Daniel Oliveira (tema: a crise alimentar no mundo), publicado em Maio de 2008, para o Arrastão.