segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fadas do bosque

Passear de bicicleta ao anoitecer de um dia quente na Alemanha, tem a sua aura de magia. Ao longo do parque vemos, devagarinho, à medida que a noite cai, entes luminosos por entre as árvores, saindo de flores, pairando o lago, subindo aos céus. De repente, tudo ao nosso lado está rodeado destas fadas intermitentes. Dançam no ar, brincam às escondidas no bosque. Voam à frente da bicicleta e misturam-se com aqueles que saem do caminho. Já não sei se estou a voar também, um efeito esplêndido de ilusão. Sorrio no escuro ponteado de luzinhas. Isto até me dar conta que o chão tem uns seres aos pulinhos, pequeninos e escuros. Tenho que pôr a luz na bicicleta, senão ainda esmago algum. Com a luz chega a realidade. Os momentos de magia são sempre assim, bons e curtos. Os pirilampos fogem para a floresta e eu desvio-me cautelosamente das rãs pequeninas (ou serão sapos). Já não voo, agora pedalo aos ziguezagues. Mesmo assim, o sentimento de ilusão continua, e com sorte, vou fechar os olhos e adormecer no mundo das fadas. Até a luz chegar.

("Hotaru-gari I", pintura de Robin Street-Morris, aqui)

sábado, 27 de junho de 2009

Deixa-me entrar















O filme "Let the right one in" é o melhor filme de vampiros de sempre. É... único. Belo. Violento. Calmo. Perturbador. Profundo.

De uma perfeição daquelas que são tão raras de encontrar, como na literatura. Daquelas que sabemos que não vão existir substitutos, como nas pessoas. Daquelas que pensamos, depois disto, não há mais nada.

Perfeito.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Campeão da física em liberdade

Beni foi libertado na floresta, depois do período de tempo que passou no santuário Lola ya Bonobo, do qual já falei antes. Tenho acompanhado no blog a libertação dos primeiros bonobos, uma grande vitória do santuário, que se dedica à reabilitação de bonobos resgatados das mãos de caçadores ilegais. Beni passou há uns tempos um teste que avalia as capacidades dos primatas em compreender as leis da física (coisa nada fácil). O teste de "alcançar janelas" avalia a capacidade de se entender a lei da causalidade. Consiste em pôr uma banana em frente a uma janela e verificar se o primata percebe que, para a alcançar sem a fazer cair, terá que abrir outra janela, senão a banana cai para o chão. O Beni é o primata campeão deste teste, ultrapassando resultados de vários primatas testados pelo mundo fora. Podem ver o vídeo aqui.

E foi hoje posto em liberdade, onde será monitorizado por especialistas na sua adaptação ao novo lar. Acho que o Beni vai ser um bom acréscimo ao primeiro grupo de bonobos a experimentar a vida na selva, nada como ter um colega que entenda de física (falo por experiência própria).

Em paz



Estranho isto das saudades...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Já posso adormecer

Pronto. Ficou tudo adiado. Menos mal. Melhor adiado do que compromissos politicamente correctos (leia-se fracos em valores).

«As baleias são mais valiosas vivas do que mortas e os benefícios económicos estendem-se para além da caça», afirma Peter Garret, ministro do Ambiente da Austrália.

Pois. Todos sabemos que nestas coisas do obviamente errado, não basta saber que é errado, tem que se encontrar razões económicas.

Boa noite, que a dor de cabeça já passou.

A dor de cabeça está pior

"A World Society for the Protection of Animals (WSPA) está também presente neste encontro e protesta contra o segundo pedido da Dinamarca (idêntico pedido foi formulado em 2008 tendo, então, sido rejeitado com 36 contra e 29 a favor) para atribuição de uma quota de captura de dez baleias corcundas nas costas da Gronelândia ao abrigo do programa de apoio às populações aborígenes.

A WSPA denuncia que, após investigações levadas a cabo na Gronelândia, as ditas "capturas de subsistência" acabam por serem processadas numa fábrica em Maniitsoq e têm como destino final 100 supermercados locais.

A Whale and Dolphin Conservation Society (WDCS) denuncia também a pretensão da Dinamarca e lembra que a baleia corcunda é uma espécie protegida da caça comercial desde 1966 pelo que apela aos países da União Europeia para rejeitarem, em bloco, este pedido."

Mas temos que ter de tudo nos supermercados? Temos que ter tudo o que queremos à disposição? Vamos morrer de fome sem carne de baleia? Mas estará tudo louco? E somos representados por quem mesmo, o tal do compromisso (leia-se lambe-botismo)? Ah, chama-se Francisco Nunes Correia, engenheiro civil (!?!).

Dores de cabeça

Custa-me que não se veja o óbvio, e normalmente quem não vê o óbvio é quem nasceu dentro do problema e logo não o vê como um problema, mas sim como normal. É assim que as maiores atrocidades, torturas e violações dos direitos humanos e animais acontecem. Com o consentimento e a defesa de pessoas que nasceram rodeadas desse ambiente e logo acham-no normal. É por exemplo muito mais fácil de identificar os problemas de um país quando saímos desse país. Pois quando vivemos nele, a maioria das coisas nem pomos em questão (e até defendemos), porque sempre foi assim. O mesmo se passa quando chegamos a outro país e identificamos logo problemas que os locais nunca tinham reparado ou pensado nisso. E por muito que me custe que não se veja o óbvio, claro que eu, também não o vejo muitas vezes. Não sou a excepção divina.

Mas depois temos aquele óbvio que é tão linear que até me dá dores de cabeça. Há duas questões que me parecem obviamente erradas. A tourada e a caça à baleia e ao tubarão. Muitas outras o são também, mas estas andam sempre na ordem dos assuntos discutidos por todo o lado. Todos os argumentos a favor destes actos soam-me a justificações para se fazerem coisas que se sabem ser erradas. Desde criança que me angustiava ver as chamadas picadas, garraiadas e touradas. A família, principalmente os homens, tentava sempre pôr-me a rir, minimizam a coisa, diziam que o touro até se divertia. Já isso me soava a que algo errado se passava. A necessidade de minimizarem a coisa, de me distraírem, já me dava nas entranhas a sensação de que a minha angustia não era despropositada. Podemos dizer que nos estamos nas tintas para o sofrimento animal, acho isso mais honesto. Por exemplo, tenho uma amiga que me dizia que não quer mesmo saber dos animais, nem do seu sofrimento. Ela dizia-me que os animais existem para nos servirem. E eu achava isso mais honesto. Não se punha cá com tretas de justificações para parecer melhor pessoa. Também pôs na cabeça comprar um casaco de peles (agora fazem de pele de coelho que é para o pessoal pensar que está tudo a ser aproveitado). Eu só lhe disse "não contes comigo para andar contigo na rua". Estava a falar muito a sério e ela optou por não comprar. Ela também me dizia sempre, que sabia que era egoísta e que pensava nela primeiro que tudo. Pronto, honestidade. Opções honestas. Tenho amigas que me dizem que entendem que eu não goste de touradas, mas que elas gostam porque gostam do ambiente, nasceram naquilo. Embora concordem que se tortura os animais. Dizer que se gosta de touradas porque se gosta mais da festa, do que do touro, é honesto. Não se ponham é com teorias inventadas para apaziguar o que é óbvio. Na tourada tortura-se os animais e esta é a verdade. Podem chamar-lhe festa, tradição, desporto. Chame-se o que se quiser. Porque a tradução é tortura em prol do divertimento e da vaidade humana.

O Japão arranjou uma destas belas desculpas para andar a fazer aquilo que todos sabemos que é errado. Matam baleias e chamam-lhe investigação. Depois a carne é vendida nos supermercados. Não há indícios significativos dos resultados da suposta investigação e a comunidade cientifica anda chateada com isto. Mas o lobbie é grande. Assim como o lobbie da tourada. O dinheiro chama mais alto e pronto. É ver reuniões internacionais sobre como arranjar justificações que apaziguem os ânimos daqueles que sabem que se está a cometer crimes graves.

Ontem no Publico online lia-se a noticia de que o ministro do ambiente, que eu nem sabia quem era (agora fiquei a saber que é mais um lambe-botas, como tantos dos nossos políticos portugueses), quer arranjar um compromisso de admitir a caça à baleia caso se exija um reforço de medidas de conservação e redução da caça. Ora, isto não é só a mim que parece um paradoxo. O que me chateiam são estes compromissos da treta à custa dos outros, que neste caso leia-se à custa das baleias. Mas será que as noticias recentes (semana passada) e graves de o aquecimento global ser muito pior do que se imagina só chegaram a alguns? Será que a noticia de que a caça à baleia disfarçada de ciência não passar de um embuste, também só chegaram a alguns? Será que o egoísmo cego e o lambe-botismo atingiu já limites patológicos tão graves? Eu sei que só não se pode dizer que se estão a marimbar para a tortura animal ou espécies em perigo, porque isso daria logo justificações boas para se combaterem estas questões em termos legais, ao nível de tribunais internacionais. Logo, lá andam eles a fazer reuniões para arranjar desculpas que soem a aceitáveis e lhes poupem chatices e pesos na consciência. Que tal focarem-se na resolução de problemas existentes e eminentes em vez de os criarem? Olhem, em vez de andarmos para a frente, se calhar o melhor mesmo, é voltar a instituir a pena capital, assim já podemos dizer que assumimos querer voltar a ser uma sociedade da idade média, pouco esclarecida e insensível aos direitos e ao sofrimento do que nos rodeia. Recuem no tempo e façam já tudo de uma vez. Nem sempre o que é errado é questionável, e o que é obviamente errado dá-me dores de cabeça.

(imagem daqui)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Medusa verde



Não sei o que são, mas gosto. Para mim, é arte.

Palavras que o vento não leva

Para os que são fãs do George Orwell (e também para os outros - como é possivel?) descobri este link onde se podem ler as suas obras online. Não é para substituir os livros, pois esses tenho-os preciosamente guardados e lidos e são tesouros da minha pequena biblioteca. É mesmo porque, por vezes, dá jeito ter as suas palavras ao alcance de um clique.

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domingo, 21 de junho de 2009

Colmeia chinesa


(tirei esta foto em Hong Kong)

TURN THEM OFF

"Right now, there is a whole, an entire generation that never knew anything that didn't come out of this tube. This tube is the gospel, the ultimate revelation; this tube can make or break presidents, popes, prime ministers; this tube is the most awesome goddamn propaganda force in the whole godless world, and woe is us if it ever falls into the hands of the wrong people (...)"

O filme Network é um dos filmes mais poderosos de sempre. Tem um script tão bom que até é difícil de acreditar que não seja um livro. Li na wiki que em 2006 o script do Netwotk foi votado como um dos melhores scripts de sempre pelo The Writers Guild of America. Não é dos filmes que mais passam na TV, vá-se lá saber porquê (estou a ironizar é claro, depois de o verem sabem logo porquê). Foi feito em 1976, e isso, para mim, também é estranho, pois Portugal acabava de dar os primeiros passos na liberdade e soa-me a uma época em que a TV ainda não tinha um peso muito grande na vida das pessoas. Mas devo estar enganada, porque este filme podia ter sido feito agora em 2009. A sua actualidade é impressionante. Mais do que impressionante, acho mesmo que este filme foi feito em 1976 para ser visto em 2009. Para Portugal deve ser dos filmes mais indispensáveis do momento. Deixo-vos o link onde o podem ver na integra (em inglês e sem legendas) e abaixo fica uma das minhas cenas preferidas (reparem na imagem dos candeeiros em série, muito, mas mesmo muito bom).



segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vento e água


Hong Kong oferece aos turistas aulas e visitas guiadas grátis que nos ajudem a conhecer melhor a cultura chinesa. Hoje tive uma aula de Feng Shui. Não sabia o que era (para ser sincera) e agora que já sei, percebi que tenho que comprar uma bússola. Convém que este ano, a cabeceira da cama não esteja virada para norte, porque isso poderá trazer todo o tipo de desastres (mesmo tudo de mau que se possa imaginar!).

O pior é que as regras mudam todos os anos a partir do dia 4 de Fevereiro, mas como o professor concluiu no final da aula que éramos já mestres de Feng Shui (aquilo foi rápido) não vai ser difícil de reorganizar a casa. Se for, ele disse-nos que em ultimo caso mudamos de casa (ora bem). Pronto, eu mestre de Feng Shui (not) agora só tenho que arranjar a bússola.

(imagem daqui)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Agora que eu estava a ficar mal (bem) habituada

Hoje deparei com a primeira pessoa chinesa não simpática. Oh pá, fiquei logo indignada. Então o que é isto? Uma pessoa habitua-se mal e depois fica chateada quando há um que não corresponde às expectativas, ai, ai. Comentário do alemão que estava comigo "se calhar ela é mais esperta". O meu comentário "ena, isso é mesmo uma coisa muito alemã para se dizer". Para quem não sabe, o acto de rir, na Alemanha, era considerado em tempos, sinal de pouca inteligência (e no fundo muitas pessoas ainda pensam assim). Ele riu-se.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Impressões III

Resumo da comida: variação de sopa de nudles. É bom, mas muito resumido, é isto. Não admira que seja raro ver chineses gordos. Tempo quente e humido, mais soupas, se eu aqui vivesse desaparecia!

Ontem comi bananas verdadeiras (sem autocolantes) pela primeira vez. Percebi porque nunca as tinha apanhado antes na Europa, pois no segundo dia as bananas que eram fresquinhas quando as comprei (e gordas) ficaram papa. Ainda assim, o melhor sabor de sempre (para quem não se importa de comer papas).

Há sumos naturais por todo o lado, é só escolher entre uma variedade enorme de frutas, não levam água nem gelo. Custam 1.20 euros. Hoje experimentei sumo de dragon fruit, uma maravilha!

Agora quando vamos a restaurantes e os preços são mais de 5 euros por prato ouço as pessoas que estão comigo dizerem "Aqui é caro". É tudo muito relativo, não é?

terça-feira, 9 de junho de 2009

Impressões II

Assim que abro um mapa na rua, aparece logo alguém a perguntar se preciso de ajuda " ohh do you need help? You look lost". Pois, mapa = lost. Para quem vem directamente da Alemanha, quase que me apetece abraçar as pessoas! Um alemão que conheci aqui dizia-me que também está muito bem impressionado com a cultura, mas que o facto de eu ser simpática (diz ele, que eu não sei nada dessas coisas) funciona como a lei da atração. Esqueci-me de lhe perguntar se essa lei só funciona na China...é que na Alemanha...enfim.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Primeiras impressões

Os chineses (da zona Hong Kong) são bem capazes de ser, em geral, as pessoas mais simpáticas, prestáveis e de bom coração que eu já conheci. Ando meio chocada com tanta amabilidade e boa vontade. Também são capazes de ser dos mais directos e sem jogos (o que também choca). Esta última parte surpreende-me menos porque tenho três amigas chinesas, logo sei o quão directas conseguem ser.

Onde é que no mundo se pede uma informação e a pessoa vai connosco e até nos chama um táxi no meio da rua? Onde é que se recusam gorjetas?

Isto não é bem outro planeta, mas é de certeza outro mundo.

Vê-se pessoas com máscaras de hospital por todo o lado, acho que eles sofreram um trauma com a gripe das aves.

Não aprecio sítios turísticos, logo tenho experimentado restaurantes onde o inglês não abunda e onde sou a única estrangeira. Pode ser arriscado, mas confio no meu bom olho para avaliar onde se come bem. E até agora, a comida não é só barata (menos de metade do preço europeu), é também uma delicia, paraiso mesmo!!!!

Acredito que eles comem (quase) tudo. Temos que (convém) perguntar especificamente o que constituiem os pratos, senão ainda comemos espetada de intestinos (ou seria o estômago?) de porco (tinha bom aspecto, a sério). Quando não se pode perguntar (não falam inglês), há que confiar no aspecto e seja o que Deus quiser!!!





Soda japonesa: parece um bonequinho.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vou andar por aqui















(imagem daqui)




Se tiver acesso fácil (e censurado) à internet, dou-vos os meus pensamentos sobre aquilo que espero como visita a outro planeta, a minha primeira visita à Asia...

Não se esqueçam


De dar um pulinho à FNAC, hoje, para ver o lançamento do documentário Home realizado por Yann Arthus-Bertrand, uma viagem aerea à volta do nosso lar, o planeta Terra.



Podem vê-lo aqui no Alice in my head (link do canal Homeproject no youtube), na FNAC que irá transmitir o documentário em quase todas as suas lojas ou na rtp 2 às 20h30. O DVD na FNAC custa 5 euros, enquanto que na Amazon (verifiquei agora) custa 15 euros, logo vale a pena investir na promoção que a FNAC disponibiliza. Yann mostra-nos filmagens aéreas do nosso planeta, pontos de vista que nos escapam, imagens de cortar a respiração, uma autêntica obra de arte a não perder.