Nasci livre. Sem partidos, sem clubes futebolísticos, sem irmandades, sem religião, sem clubes VIPs. A única coisa da qual não me pude livrar à nascença foi da genética fornecida pelos meus pais. Ainda que procure combatê-la quando dela tenho consciência, a genética é a verdadeira prisão. No topo de tudo isto tive a sorte de ter uma educação muito livre, nunca me foi imposto nenhum partido, nenhuma religião, nenhum clube, nem nenhuma irmandade. Fui sempre incentivada a pensar por mim e fi-lo o mais que pude, embora obviamente que como complexas esponjas que somos, absorvi algumas ideias que me rodeavam (mesmo as que não vinham dos meus pais, o que na adolescência dá inicio à turbulenta emancipação). Continuei livre o mais que me foi possível, mas fui moldada pela cultura, pela imposição de papéis sociais (uma adquirida injusta dor de cabeça), pela televisão (o instrumento excelência da propaganda, ou não vivesse eu em Portugal; pelo menos na casa de banho consigo ouvir os meus pensamentos – em breve alguém se lembrará de pôr pequenos ecrãs nas portas em frente às sanitas), embora a um nível mínimo quando comparando com a maioria das pessoas que conheço.
Por isso, sei que sou livre, mas não me sinto livre. O que já não é mau. Visto que a maioria nem sabe que é livre.
Por isso, sei que sou livre, mas não me sinto livre. O que já não é mau. Visto que a maioria nem sabe que é livre.
Durante toda a minha vida adulta tenho sido incrivelmente pressionada (mesmo incrivelmente, por vezes nem dá para acreditar nos meus ouvidos e olhos) a categorizar os meus pensamentos e acções, a comportar-me de acordo com expectativas sociais ridículas, a pensar como os rebanhos, a aceitar sem questionar, a aprisionar-me àquilo de que era livre à nascença.
Todas estas coisas que a maioria considera como parte dos humanos não o são. São-no porque nos são impostas a ferro e fogo, em alguns locais metaforicamente, noutros literalmente.
Acho estranho – estranho como se fosse marciana – quando vejo pessoas a agredirem-se porque um é do Benfica e o outro do Sporting, ou quando patologicamente acreditam que o seu sangue é azul e não vermelho (sério que isto devia entrar para os sintomas de diagnóstico de esquizofrenia... espera… sim! faz parte dos critérios de diagnóstico!), quando passam uma vida a tentar encaixar em papéis sociais que apenas os inferiorizam e prejudicam (inteligente seria tentar encaixar em papéis que os superiorizam, mas pronto), quando alguém se recusa a pensar por si para poder pertencer ao tal clube, religião, irmandade (embora isto até possa ser uma jogada espertinha, e.g. em Portugal é o que mais abre portas, mais do que qualquer outro critério). Observo como o poder corrompe (a maior verdade que aprendi a viver no mundo dos adultos) e como as pessoas se esquecem da morte e de que não são eternas (evitem adiar muitas vezes “para a próxima”).
Nasci livre e fui durante muito tempo livre e extremamente feliz, alheia a todos estas diferenciações inventadas pelas patologias humanas. Depois de uma fase adulta de tentativa de formatação (que começou lenta e subtilmente com a primeira frase vinda da minha querida avó sobre as meninas não brincarem na rua, e teve o seu auge nos meus anos 20 - também tive uns anos 20, nao foi só a história humana), hoje faço um esforço grande para cada vez mais, ser a tal pessoa livre e feliz - o meu verdadeiro eu. Sou sortuda por possuir uma tendência para sentir felicidade, graças à liberdade que me foi dada na infância (quem não a teve, terá mais dificuldade – culpem a química do desenvolvimento cerebral).
Felicidade é aquele conceito abstracto que os humanos adoram, amam divagar sobre. E como humana que sou, aqui vai a minha divagação: felicidade anda de braço dado com a liberdade. Quanto mais livre, mais feliz. Seja uma liberdade interior, vinda da simplicidade, até por vezes da ignorância (que não é nada santa, apenas apaziguadora de espírito) ou vinda do conhecimento, da verdade, dessa sede contínua. Seja uma liberdade exterior, poder agir, poder andar livremente na rua, nos campos, sem amarras e sem medo (não ter medo é das maiores liberdades, daí a media investir tanto em estimular medo nas pessoas, pois esta é, como todos sabemos, a melhor forma de manipular opiniões). Também a liberdade de não aceitar amarras absurdas, de não calar, de dizer não com firmeza, ou sim com vontade. Tudo isso liberta a pessoa "que há em si". Não leio sobre o assunto. Os meus interesses profissionais são mais cognições sociais e culturais. No entanto, de acordo com experiência clínica no campo das patologias psíquicas, tenho cá para mim (gosto desta pateta expressão, isto no tradutor Google não vai ser fácil) que, com base numa boa auto-estima, liberdade e felicidade andam de mãos dadas. Claro que sem uma boa auto-estima será tudo muito complicado, quer a liberdade, quer a felicidade. Porque as crenças disfuncionais andam de mão dada com a falta de auto-estima e crenças disfuncionais levam a depressão e a outras patologias. Enfim, nem vou por aí agora, porque isto é o mundo fascinante das associações (de andar de mão dada). É só para dizer (pois algures já me perdi e vocês também) que não há clubes (“it’s all in you head”). Que gostava de ver mais estudos científicos para provar falta de diferenças (pois). Não há amarras bizarras que não sejam as cerebrais e as genéticas (já por si bizarras o suficiente). Tudo o resto é miragem.
Felicidade é aquele conceito abstracto que os humanos adoram, amam divagar sobre. E como humana que sou, aqui vai a minha divagação: felicidade anda de braço dado com a liberdade. Quanto mais livre, mais feliz. Seja uma liberdade interior, vinda da simplicidade, até por vezes da ignorância (que não é nada santa, apenas apaziguadora de espírito) ou vinda do conhecimento, da verdade, dessa sede contínua. Seja uma liberdade exterior, poder agir, poder andar livremente na rua, nos campos, sem amarras e sem medo (não ter medo é das maiores liberdades, daí a media investir tanto em estimular medo nas pessoas, pois esta é, como todos sabemos, a melhor forma de manipular opiniões). Também a liberdade de não aceitar amarras absurdas, de não calar, de dizer não com firmeza, ou sim com vontade. Tudo isso liberta a pessoa "que há em si". Não leio sobre o assunto. Os meus interesses profissionais são mais cognições sociais e culturais. No entanto, de acordo com experiência clínica no campo das patologias psíquicas, tenho cá para mim (gosto desta pateta expressão, isto no tradutor Google não vai ser fácil) que, com base numa boa auto-estima, liberdade e felicidade andam de mãos dadas. Claro que sem uma boa auto-estima será tudo muito complicado, quer a liberdade, quer a felicidade. Porque as crenças disfuncionais andam de mão dada com a falta de auto-estima e crenças disfuncionais levam a depressão e a outras patologias. Enfim, nem vou por aí agora, porque isto é o mundo fascinante das associações (de andar de mão dada). É só para dizer (pois algures já me perdi e vocês também) que não há clubes (“it’s all in you head”). Que gostava de ver mais estudos científicos para provar falta de diferenças (pois). Não há amarras bizarras que não sejam as cerebrais e as genéticas (já por si bizarras o suficiente). Tudo o resto é miragem.
4 comentários:
Excelente texto!
No entanto, não sei se será assim mesmo! Sou muito ignorante nessa matéria, mas parece-me que a "felicidade" de muitos se baseia na falta de liberdade de pensar. Como que:
"Os meus grilhos são o meu mundo e é com eles que sou feliz. Para lá do meu limitado horizonte não sei o que está, mas sei que é mau. Gosto desta gaiola dourada"
Na realidade, não é uma felicidade plena, é apenas aquela falsa ideia de felicidade que se pode ter quando não se sabe o que é a liberdade de pensamento.
Gostava tanto [mas tanto] de ter sido eu a escrever este texto...
I love the analogy with the pack of cards! It is you who (in another context) taught me to better understand the interdepence of genes and environemnt: One should image a card game, each player has an own set of cards. "The Game" unfolds depending on which cards you have in your hands (the genes) and on what cards are down on the table (the environment). You cannot put down any card that you don't have in your hands and you also cannot put down a card you have if the opportunity, as determined by the cards on the table, does not arise. Hm, not sure I explained correctly, but you get the point ;-)
Manuela, muito obrigada :-) Se calhar o que me faltou explicar tem a ver com o sentir. O mais importante é como a pessoa se sente. Nao como a pessoa finge aos outros (e a si) sentir, nem como a pessoa quer sentir. Mas como a pessoa se sente mesmo. Creio que quanto mais livre a pessoa se sente (indepentemente da percepcao dos outros, ou do contexto) mais feliz é. Daí ser possivel ser feliz numa gaiola (seguranca pode fazer algumas pessoas sentirem-se livres; mas poucas se sentirao realmente livres se tiverem consciencia que vivem numa jaula). Em geral, nao se compara à felicidade sentida na liberdade de correr sobre um prado num lindo dia de Verao (para isso há que ter o conhecimento que existem prados, que existe o Verao e que se pode correr). Realmente tudo é relativo e tudo é relativo ao sentir :-)
Margarida, fico feliz pela empatia :-)
Jellyfish, I wish the cards analogy was of my own authorship, but it is not. It is my favorite explanation for genes and environment and I totally agree with it (TOTALLY). Although not quite sure that my explanation is exactly the same as the one described by Thomas Lewis in his wonderful book "A general theory of love" goes very much the same lines. You have explained it very well, the environment is the game, is what makes you pull some of your cards. The genes are your cards. Of course you cannot put down a card you don't have, and not all your cards will be called by the environment (it depends on the game, plus also as in all games luck plays a role). So it's 50/50 (more or less) ;-)
Postar um comentário