Apaixonei-me há uns anos. Um amor platónico. Daqueles impossíveis. Daqueles em que idealizamos o ser ponto central da nossa estima. Admirava tudo nele. A sua historia de vida. A sua clareza, a sua genialidade, a sua coragem, a sua perspicácia, a sua audácia. Acima de tudo, a sua lucidez. Ah, a sua lucidez. Devorava todas as informações que obtinha sobre a sua vida, sabem como é, a curiosidade e o interesse de um apaixonado. Depois descobri que escrevia um diário. Um diário em blog. Que sorte a minha, ia ter a oportunidade de vasculhar os pensamentos íntimos do ser que me apaixonava. Não é todos os dias que os seres por quem nos apaixonamos publicam diários online. Já para não dizer que no meu caso foi a única vez (talvez vocês tenham mais sorte). Sem saber explicar senti-me mais unida a ele. Senti que o ia conhecer ainda mais. Talvez, quem sabe, entender melhor a alma que me intrigava, a alma que me tirava horas de sono, a alma que gostava de ter ao meu lado. Eis que me aparecem as primeiras páginas de uma escrita sempre tão delicadamente lida por mim, e agora sofregamente e curiosamente antecipada. O seu diário:
25.11.38 Two eggs.
27.11.38 Two eggs.
29.11.38 One egg.
30.11.38 Two eggs.
28.12.38 Have been ill. Not certain about number of eggs, but about 9.
Fiquei preocupada. Quando ele não conta ovos, preocupo-me. E é isto que é o amor platónico.
(imagem deste artigo da Newsweek)
Um comentário:
No outro dia comentavam ao almoco que era possivel as plantas terem sentimentos... e ate ja tinham conseguido uma forma informatica de passar esse sentimento para escrita... entao havia uma planta que escrevia um blog... coisas muito simples, mas conseguia captar os seus estados de espirito. Imagino que te tivesses apaixonado por algo do estilo. Ate gostava de conhecer melhor estas "lendas urbanas" de tecnologias japonesas, mencionadas em almocos.
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