segunda-feira, 16 de março de 2009

Amor à primeira vista

Entrei apressada na livraria, direita às escadas rolantes que me levariam ao segundo andar onde os livros em versão inglesa se encontram. Procurava um livrinho que li há pouco tempo sobre os alemães "Xenophobe's guide to the germans", muito divertido e certeiro, para oferecer a uma amiga que deixará as terras germânicas para regressar a Portugal, talvez de vez. Estas coisas das despedidas deixam-me sempre um pouco vazia, não gosto nada de despedidas, nem gosto que as pessoas se vão embora para longe. Tolero porque tem que ser. Mas se pudesse montava uma vila com família e amigos, onde todos estariam relativamente perto. Portanto, queria que ela voltasse a Portugal com um sorriso nos lábios ou até, caso resolvesse ler o guia durante a viagem de avião, soltar uma ou outra gargalhada ao deixar o céu cinzento. Passei os olhos em todos os livros, puxa ainda bem que há tantos livros em inglês, tenho que cá voltar com tempo (a última vez que o fiz nesse mesmo sitio gastei uma pipa de massa em livros para acrescentar à pilha-a-chegar-ao-tecto de livros para ler). Já meio perdida, mas sem conseguir levantar os olhos dos livros (tenho este problema nos olhos, ou será na cabeça), e, antes de me decidir a perguntar a uma funcionária (os funcionários estão onde deviam estar), a minha visão foca-se numa criatura de ar vulnerável sentado em frente a um livro quase do seu tamanho. O meu coração bateu um pouquinho mais. Ora, espera aí, quem é este? Firmin? Peguei nele, olhei-o mais um tempo e sem hesitar levei-o comigo. Há encontros assim, arrebatadores, cheios de esperança, de promessas de felicidade. Não o larguei mais.

No comboio, o Firmin, a criatura que me arrebatou narrava o seguinte:

"In the end, seeing myself for the first time was not at all like seeing just any old rat. The experience was more personal, and more painful too. While it was easy enough to gaze at the unlovely shapes of Shunt or Peewee, it was horrible to have to look upon my own similar aspect. I realized, of course, that the intensity of this pain was in exact proportion to the enormity of my vanity, but that thought only made things worse. Not just ugly, but vain as well - which only added ridiculous to the pile. There I stood, tilted slightly, in irrefutable detail - short, thick-waisted, hairy, and chinless. Firmin: fur-man. Ridiculous. The chin, or the lack thereof, caused me special pain. It seemed to point - though in fact this nonentity was incapable of anything as bold as pointing - to a gross lack of moral fiber. And I thought the dark bulging eyes gave me a revoltingly froglike air. It was, in short, a shifty, dishonest face, untrustworthy, the face of a really low character. Firmin the vermin."

















É tão bom quando a capa corresponde ao conteúdo. E é isto que é o amor à primeira vista.

2 comentários:

Lux disse...

Devido ao meu "excesso de peso" desisti de comprar seja o que for no aeroporto!! embora tivesse escolhido esse livro como companheiro de viagem há meses... qual ratatouille qual quê!!

**
e não compraste em alemão porquê??
HUMPF

ecila disse...

Humpf para o meu alemao que nao serve para ler livros...a nao ser os de crianca ;) Comprei uma edicao lindissima dos contos de Anderson e lá entendo o que eles escrevem, not easy, nicht einfach (?!?) :-) Tenho saudades tuas, voltaaaaa