Não quero saber se é preto, branco, amarelo, vermelho ou verde às riscas azuis. Nem quero saber de idades. Nem se é mulher, homem, ou aquilo que lhe apetecer. Isto só para dizer que não gosto de estereótipos, nem clichés e nem preconceitos. Simples.
As gavetas em que se metem as pessoas à priori chateiam-me. Metam as pessoas nas categorias que quiserem depois de as conhecerem. Mas tirar logo brilhantes conclusões pela cor, género, altura, ou vestimenta, não há pachorra. O tempo da creche já passou hà muito (no meu caso) e cada vez tenho menos paciência para este tipo de raciocínios primários...
Isto devo ser eu a preparar-me para as férias de Natal em Portugal ... altura em que tenho oportunidade de ouvir as mais irritantes piadinhas e comentários feitos a meio sorriso à procura de cumplicidade (que nunca encontram na minha cara). Respirar fundo...
Estou na casa da minha amiga... já não a via há mais de dois anos, apesar de nos telefonarmos de vez em quando. Ela é uma daquelas amigas que apesar de longe, está perto se eu precisar. Eu sou dessas amigas para ela também. Apesar de muito diferentes (eu acho, ela talvez não ache e é capaz de ter razao), temos gostos em comum que nos fazem sentir como crianças. Ambas adoramos animais, inocência, rimos que nem umas derretidinhas malucas depois de determinadas cenas que assistimos, tais como cães com penteados sofisticados e velhinhos/as vestidos inintencionalmente de elfos. Depois temos outras em que nos complementamos, ela adora cozinhar, eu adoro comer. E temos outras em que nao temos nada a ver, eu adoro livros e filmes desde que nao sejam light, auto-ajuda (e afins) e cor-de-rosa, ficcao cientifica, aprecio boas ferramentas, politica, computadores, etc. Ela gosta de filmes e livros simples, desliga em todas as outras conversas. Eu nao gosto de clichés, ela não sabe bem o que quero dizer, mas escuta e absorve. Ela vai-me dar aloe vera (da espécie chinesa) e hortelã pimenta que crescem em vasos na sua cozinha limpinha. Para me ajudar nas minhas tentativas e exploracoes de comida e cozinhar saudável. Eu quero ser vegetariana. Ela diz-me “nao penses demasiado”...
Muito inteligente e acima de tudo especifocada. Eu, uma multifocada.
Cozinhámos (ela cozinhou, eu ajudei e tomei notas) raízes de lótus como sobremesa. Aha, raízes também podem ser sobremesas (este aha nao é para vocês que devem achar tudo isso óbvio, mas para mim como um “!?!”). A raiz de lótus é perfurada por corredores, enchem-se esses corredores de arroz, e coze-se com uma boa quantidade de acucar (que tal a minha linguagem culinária?).
Dizem (disse ela) que na China, em qualquer restaurante, tal iguaria custa um euro. Do mais banal que há...
E mais, do qual não tenho foto, sopa chinesa verdadeira e não dessa que se come pela Europa... com cogumelos chineses (hmm... misturados com cogumelos do ALDI), e rebentos de bambu que na Europa só se conseguem fresquinhos quando congelados, o que é uma verdadeira raridade (é preciso bons contactos...sou ou não sortuda)
*sei que uso palavras que talvez não existam em português, mas espero assim contribuir para o aumento do vocabulário da maravilhosa língua portuguesa que na minha opinião devia ter a palavra inintencionalmente (caso não tenha). Tentei usar o google para corrigir a falta de acentos, til e "c" de cedilha, mas nem sempre resulta, sorry.
Questão: Porque será que as pessoas a partir de uma determinada idade se tornam estranhas? Pelo que me lembro do que estudei (ou será que li algures numa dessas revistas “cientificas”?) o cérebro começa a perder capacidades de flexibilidade e capacidade de criar novas conexoes (neuronais) por volta dos 30 anos de idade. Na verdade, foi recentemente descoberto que até aos 30 anos existem provas de desenvolvimento cerebral, ou seja, o fascinante desenvolvimento do cérebro nao pára por volta dos 18, como antes se defendia (isto sim é de fonte seguramente cientifica - ano de 2005). Será que se deixarmos de forçar o cérebro, esse desenvolvimento começa a escassear e tal como o corpo com falta de exercício, o cérebro perde assim a sua flexibilidade? (pergunta de resposta óbvia). De qualquer forma, é por volta dessa idade (30) que costumo observar estas mudanças em algumas pessoas. Como se, de repente, acordassem e eu já nao as/os reconhecesse. Há uma fase na nossa vida em que os nossos cérebros sofrem transformaçoes radicais, fase a que chamamos adolescencia (daí alguns adolescentes serem tão “dificeis” e até problemáticos). E parece-me que há outra altura em que certos cérebros sofrem rigidificaçoes radicais, isto por volta dos 30. E há pessoas que eu deixo de reconhecer, as conversas deixam de me fazer sentido, sinceramente não sei do que estão a falar. E... pasmem... acho que alguns estao mesmo afectados do juizo (nao quer dizer que estejam, é só o que eu acho).
Lembro-me que na aproximação dos meus 30 anos, a maioria das pessoas me avisar destas mudanças. Na noite anterior à celebre data cheguei ao meu quarto de estudante (andava a estudar no estrangeiro), sentei-me a estudar (que maravilha, faço anos em altura de exames) e esperei pela meia-noite. Depois da meia-noite nada mudou. Recebi os telefonemas e os sms, o frio continuava lá fora, não me deu vontade de arranjar cortinados a combinar com as almofadas, nem de tirar os posters do “Lord of the Ring” da parede, e não olhei mais vezes para o relógio (telemóvel, porque não uso relógio) do que antes, à espera do tiquetaque biológico fazer o seu efeito. Devo dizer que me senti um pouco desiludida, porque depois de tantos avisos eu esperava algo. Algo como um clique cerebral, um shift como na adolescência, um empurrão para a vida “chata” (aos meus olhos) que leva a maioria dos adultos. E nada. Hoje vejo que algo de errado se passa comigo, pois essa mudança acontece a toda a hora à minha volta. Sempre por volta dos 30 (mais ano, menos ano). O cérebro rigidifica. O problema pode até ser que o meu cérebro rigidificou muito antes dos 30... e pronto, ficou parado algures num tempo entre os 17 (“muito antes”) e os 27 (nao “muito antes”)... e isso leva-me a ter dificuldade em entender os mais velhos (que até sao mais novos). Acho que esse meu problema temporal tem a vantagem de facilitar o convívio e amizade com pessoas mais novas (fisicamente mais novas). Mas, agora que penso nisso, também tenho facilidade em me dar com pessoas fisicamente bem mais velhas, os da minha idade é que sao mais estranhos. Weird...!!!!
Não tem a ver com o ter filhos e casa e carro e responsabilidades e esposo/esposa, companheiro/companheira e televisão digital (ou whatever) gigante na sala e colecção de coisas que são usadas uma vez por ano. Porque conheço quem tenha isso tudo (excepto talvez a televisao gigante e excepto, definitivamente, a colecção de coisas que sao usadas uma vez por ano) e não tenha sofrido shifts cerebrais (observáveis, quero eu dizer). Simplesmente (na verdade não muito simples) teem a vida mais ocupada, e riem-se das coisas novas com que teem que lidar. Por vezes queixam-se (como eu). Aliás, tenho observado estas alteracoes em pessoas que não teem essas responsabilidades (mas falam como se tivessem - tipo “faz de conta”). Tem mesmo a ver com o cérebro. Meus amigos, crescer não significa tornarem-se secas. Ser adultos não significa tornarem-se picuinhas e obsessivos (meio malucos a meu ver). Mas isto sou eu a falar, que sei pouco sobre estas coisas, pois o meu cérebro está noutra, parado algures num tempo... que talvez não exista...
Outra coisa que me ocorreu, de acordo com o observável (always tricky) foi que talvez com a idade, os genes nos apanhem na corrida de não sermos iguais aos nossos pais. Até porque isso também deve ter ocorrido com os nossos pais. Talvez não haja muita saída, a não ser, tal como em terapia, tomar consciência do mal e tentar assim combatê-lo. Mas poucas pessoas tomam consciência de que estão a perder a corrida. Os genes ganham quase sempre. E mesmo que pareçam não ter ganho, talvez nos enganemos, talvez os seus objectivos fossem mesmo a mudança. Bom, mas melhor mudança do que rigidez, parece-me. Agora o que é estranho no meio de tudo isto, é que a conversa abaixo descrita ocorreu com uma "ela" da minha família... não sei francamente o que isso significará em termos genéticos. (suspiro)
Ela: (...) e estou a pensar fazer a festa de Ano Novo na casa do Pedro. (namorado da “ela”)
Eu: Ahh, fixe!
Ela: (suspiro)...pois, mas já se está a ver que depois vai ser um trabalhao para nós os dois (suspiro de cansaco).
Eu: ...
Ela: Depois da festa!
Eu: ahh... eu ajudo. Também é só uma vez. Que fixe! Lembras-te da festa que nós demos? Foi memorável, e limpar a seguir nao custou muito, porque a festa foi boa – incrivel que ainda se fala dessa festa! He he, desde que nao atirem com champagne para as paredes, lembras-te? Isso é que foi mais complicado...
Ela: Nem pensar! As pessoas vao lá para fora!
Eu: Lá para fora? Como assim, lá para fora?
Ela: A festa nao é dentro, fica tudo lá fora. Nada de beber dentro de casa!
Eu: ?!?!? Entao... mas é Janeiro...nao estou a perceber...
Ela: Olha, nós temos chao flutuante de madeira. Sabes o que isso é?
Eu: Sim, também tenho. Muita gente tem hoje em dia.
Ela: Pois. Nao se pode derramar liquidos nesse chao! Imagina se alguém entorna bebida no chao!
Eu (já me estava a sentir um pouco muitoooo secante): Bom...eu até já entornei liquidos neste chao, muitas vezes. Mas pronto, limpei. Agora está fixe.
Ela: Pois, mas quando compras uma casa e ela é tua comecas a ter mais cuidado com as coisas.
Eu: Sim, lá isso é verdade. Hmm... entao talvez o melhor é nao fazeres festa... ou cobrires o chao...
Ela: Nao. Faco festa, mas com regras. Ai, que trabalheira... (suspiro)
(por muito que goste das pessoas, este tipo de conversa "complicadex" nao dá para mim. Sinto-me mais seca do que no deserto (o que sempre evita a queda de liquidos no chao) )
When you forget about your department's christmas party and have already other arrangements for the evening (which you cannot cancel) the best is to not show your face at the office the whole day. A lesson I have learned today ;-)
O uso da palavra "cool" ao referir-se a resultados durante uma apresentacao, levou à activacao da regiao cerebral "err..." (= "mas ele disse mesmo isto?") no conjunto de cientistas que estavam na audiencia. Escusado dizer que eu e a minha colega rimos bastante.
Questao: porque nao se deve usar a palavra "cool" em determinadas situacoes? Porque a apresentacao era sobre comparar áreas cerebrais no autismo com o sistema neuronal de "reward" no consumo de canabinóides. "Cool results" (resultados fixes ou porreiros) é capaz de nao ser a expressao indicada ;-)
Nota para organizadores de conferencias: se alguns dos convidados e speakers sao estrangeiros, vindos de tao longe como o Canadá, é favor usar o ingles como lingua oficial do congresso. É nestes pequenos pormenores que se consegue quase fazer o perfil dos organizadores em questao. Tentativa: - mais velhos do que mais novos - funcionarios da universidade que nao sao investigadores - pouco simpáticos e/ou pouco flexiveis e/ou pouco relaxados e/ou arrogantes e/ou parados no tempo
Sim, escrevi as minhas sugestoes no formulario de avaliacao da conferencia (criticas construtivas levam ao progresso - coisas em que acredito). Acrescento, o sitio era lindo, mas a comida parecia mais vinda da prisao, do que de uma inscricao que custa 100 euros.
Eu que adoro a neve, hoje gostei menos um bocadinho. É que atravessar a caótica rede de transportes de Frankfurt, com dois posters, mala, carteira e chapéu de chuva, deixa de ter a sua piada passado um tempo (5 minutos). Confio tanta na organizacao alema que como boa portuguesa fiquei descansada que a informacao fornecida no website da conferencia seria suficiente para lá chegar. Claro que agora já sabem que vou dizer: "mas nao". Atencao: o underground de Frankfurt é um labirinto. Os labirintos nao sao um problema em si (sao giros), o pior é a falta de informacao. A única informacao sobre o labirinto encontra-se na plataforma onde se apanha o metro, ou seja temos que descer as escadas (umas quaisquer) para chegar à plataforma X e encontrar o mapa de underground! Informacao esta que como fica exactamente na linha do metro (!?!) temos que nos situar durante o espaco de tempo entre a chegada dos metros (sim, isto é tao absurdo que custa a acreditar ou até a entender!). Só para chegarmos à conclusao que o nosso transporte fica na plataforma Y e que temos que subir e descer escadas para lá chegar (com mala, carteira e posters).
Estao a ver? Ali no meio (entre as linhas dos metros) está a informacao sobre o labirinto, quem teve esta bela ideia é que eu gostava de conhecer...
Nota sobre os alemaes: Ao contrário do estereotipo, as pessoas foram a minha salvacao e a sua vontade de ajudar foi tao grande que mesmo debaixo de neve, vento, piso escorregadio e gelado, andavam mais uns metros só para me indicar a direccao certa. Ou o estereotipo está desactualizado (o que será de esperar com estereotipos) ou a minha cara e o meu ar metiam dó até a um robot. Aposto nas duas possibilidades.
Vou explicar como por direccoes num site de uma conferencia: 1° Informar dos transportes a partir da estacao principal (básico!) e nao apenas do ultimo transporte no percurso. 2° Nao dizer apenas o nome da estacao a parar e o numero do transporte mas também a direccao em que o transporte vai. 3° Se a estacao tiver várias saidas indicar qual a direccao mais próxima do destino. 4° Se a estacao final (de finalmente) de metro/bus ficar relativamente distante do local da conferencia, acrescentar o percurso pedonal a seguir.
Tudo isto ajuda muito a reduzir o tempo de viagem, principalmente em dias de neve intensa. Obrigada. Vou tomar um banho de espuma relaxado só para destressar (mesmo que esta palavra nao exista).
Por vezes fico surpresa com a manifestação de amor dos outros. As minhas amigas quase todas me consideram a "melhor amiga". E algumas teem-me feito declaracoes que me deixam o cérebro em busca de conexões novas para lidar com o que ouve (o sistema auditório é fascinante - talvez fale disto noutra altura). Uma amiga minha (10 anos mais nova...como é que estou numa idade em que tenho amigas 10 anos mais novas???? isso é que me intriga!) dizia-me o outro dia "Oh, you are my role model ! I'll do my best to be able to become just as you (as a person and as a researcher)!" De onde é que o pessoal tira estas ideias? É lindo de ouvir...mas a mim deixou-me mais em choque do que em devaneios de maravilha, "eu? uma role model?". Só pode ser porque não me conhecem bem. E a pressão meus queridos, a pressão :-P
Tenho amigas/os dos 19 aos 58 de idade! Todas diferentes, cada uma mais diferente da outra, várias/os Portuguesas, várias/os Alemãs, três Chinesas, uma do Canadá, duas da Turquia, uma da Venezuela, um da Índia, um dos EUA, uma Francesa, alguns Ingleses, uma Holandesa, um da Noruega, e etc, etc. Não sou coleccionadora de amigos, sou apenas leal e fiel às amizades. Quem entenda a minha independência e ainda assim persista, mais tarde ou mais cedo conquista-me e ganha uma amiga para a vida. As minhas amigas teem saudades minhas, não se esquecem, e pedem-me para voltar. Outras pedem-me para ficar. Quando eu digo que estou a reconsiderar ficar, os seus olhos brilham. Não sei se volte se fique. Ninguém fica pelas amigas, não sei porque. Porque as amigas são do melhor que esta vida tem. E eu adoro cada uma e cada um.
"Nao tenho resposta. Podia inventar uma resposta interessantissima mas nao vou cair nessa tentacao."
"Acho que quando a mulher/esposa tem uma ideia arrisca-se sempre a uma reaccao do companheiro/marido que é inevitavel. Ela tem uma ideia e nós dizemos: nao. Isto é o primeiro movimento. Passados dois dias manifesta-se um outro movimento que diz "olha essa ideia que tiveste nao é assim tao má. Vamos pensar nisso". Há um terceiro movimento que esse aí nao caí (nao caí nunca) que é quando o macho (para usar agora esta palavra) tenta apropriar-se da ideia para apresentá-la como sua. (nao, eu aí nao cheguei)"
(em relacao ao porque da recusa de adaptacao ao cinema das suas obras) "Porque eu sempre dizia... enfim, para dar uma resposta relativamente brilhante à minha negativa... eu dizia "eu nao quero ver a cara das minhas personagens". Digamos... é bonito, mas nao significa nada.