(imagem de spiegel international online)
Descobri um blog hilariante para quem vive (tenta viver) na Alemanha. Sabe bem verificar que a visão que nós temos de uma cultura confirma-se pelos olhos de outros estrangeiros que, ainda por cima, vêm de outro continente. Eu chamo isto de "culture trait confirmation". Ou seja, pelos relatos de várias pessoas de diferentes culturas a viver num país, se vai distinguindo comportamentos que fazem parte da cultura desse povo/país, daqueles comportamentos que fazem parte da personalidade individual. Sem contar com as excepções, claro. Para os estrangeiros é muito útil entender a cultura do país onde se vive, pois assim que se entende a cultura, aceita-se melhor a diferença. Considero até a identificação do que é cultural como o factor mais importante para a adaptação.
Nem sempre os políticos entendem isto. Foi por isso que fiquei surpresa ao ler sobre a escola para homens que oferece cursos sobre a cultura alemã a homens estrangeiros. Estes são geralmente de origem turca e sentem alguma dificuldade em lidar com a emancipação feminina na Europa. E eles estão a viver na Alemanha, um país que não conheceu a emancipação feminina no seu verdadeiro significado, faria se eles vivessem em países mais igualitários. Mas tirando este pequeno aparte, parece-me natural que pessoas vindas de culturas patriarcais como as culturas muçulmanas, necessitem de ajuda para lidar com as novas mulheres (mais esclarecidas digamos) que têm em casa (ou que acabaram de perder). Isto para evitar algo que acontece muito por aqui, que são os chamados crimes de honra, assassina-se a filha, esposa, irmã, para salvar a "honra" da família. Claro que só frequentam as aulas, os homens que se deram conta que têm que mudar, o que a mim já diz muito sobre o tipo de homens que ali recorrem. O querer aprender, mudar, melhorar, não é para todos. Ainda assim, acho muito interessante o sucesso que estes grupos estão a ter, pois já existem, em Berlim, oito grupos de homens estrangeiros moderados por psicólogos. Um dos tópicos é sobre os benefícios do sistema social alemão. Enquanto que na Turquia, as mulheres são, em regra, financeiramente dependentes do homem, na Alemanha não. Uma diferença que, obviamente, e em todo lado no mundo, liberta. E mulheres livres é algo que, em geral, os homens de cultura muçulmana, principalmente os mais velhos, têm certas dificuldades em entender e aceitar. É aqui que muitos dos problemas de honra começam (já percebi há muito que honra e liberdade são conceitos que se dão mal). O psicólogo tenta então fazê-los entender que a honra depende do comportamento do próprio e não do comportamento dos outros. A conversa tem por foco uma mudança de mentalidades e melhor aceitação dos costumes modernos da Alemanha. Os resultados são muito positivos e têm-se evitado conflitos violentos. Isto para dizer que qualquer país beneficia de iniciativas deste género. Cursos sobre a cultura de um país, oferecidos por psicólogos, é das melhores ideias que já li! Fica a sugestão para os serviços e instituições ligados à imigração.
Aqui o link para o blog sobre a Alemanha (escrito por americanos, é também divertido verificar as diferencas entre EUA e Europa).
Aqui o link para o artigo sobre as escolas de homens.
Quanto a diferenças culturais entre Portugal e Alemanha, há muitas (ha ha ha), mas assim de repente, lembro-me (todos os dias) da rapidez com que os alemães almoçam. A primeira vez que almoçamos com alemães nem queremos acreditar. Eles engolem (com poucas maneiras) o almoço todo em 10 minutos e depois ainda batem com os dedos impacientemente (sim, no inicio aconteceu-me mais do que uma vez) enquanto nós nos engasgamos a tentar sorver (já sem maneiras também) o que ainda temos no prato, que por essa altura ainda é mais do que dois terços. Um dos conselhos do blog acima: "Do not attempt to participate in the conversation, focus solely on eating as fast as you can." Todos os estrangeiros na Alemanha vão agradecer a preciosa dica.
(acho que este post tinha dado para, pelo menos, três posts separados, mas pronto).
(acho que este post tinha dado para, pelo menos, três posts separados, mas pronto).
4 comentários:
Não sabia o povo alemão impaciente... :p
Paulo, a paciência nao é realmente um dos pontos fortes da cultura alema ;-) beijinhos!
Muito bom. Esta dica da-me um jeitao, já que provavelmente irei ser questionada precisamente sobre essas diferencas culturais numa entrevista de emprego. Irá ser difícil permanecer neutra...
Ariadne, na entrevista tenta ser diplomática ;) mas nao te descaias a dizer que os alemaes comem depressa, isso leva-os a pensar no tempo que precisas para almocar. Boa sorte!
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