segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O véu











Coisas difíceis de discernir na minha cabeça é o que se passa actualmente na Europa em relação ao Islão. A primeira vez que vi uma mulher de véu tipo freira (sem o ser) foi na Alemanha. Lembro-me de ter ficado chocada e indignada, como se tivesse recuado séculos no tempo. Senti-me ofendida e é arriscado explicar porquê, pois falar de religião é sempre difícil. Uns anos mais tarde (2005), também na Alemanha, vi duas mulheres completamente cobertas, não se vislumbrava um centrimetro sequer de pele e até os olhos estavam cobertos com uma rede. Esta não é uma visão muito frequente, porque este tipo de mulheres não são, geralmente, permitidas a sair de casa (pelo menos sem acompanhante "adequado"). Mas quando se trabalha num hospital tem-se a oportunidade de ver coisas que não se vêm no dia a dia da maioria das pessoas. Dessa vez o meu choque foi tão grande que parei de andar, simplesmente não queria acreditar no que os meus olhos viam. Aquelas pessoas não me pareciam humanas, pareciam saídas de um filme futuristico, um filme sobre sociedades alternativas totalitárias, ou planetas longíquos primitivos. Lembro-me de pensar "Deus nos livre de visões destas" (expressão de lugar comum). E lembro-me de pensar também, aliviada, em Portugal, como um sitio livre destas visões. Hoje já não é assim. E podem-me cair em cima com todas as ofensas e acusações, mas só tenho pena que assim seja.

A minha mãe conta que no tempo dela também as mulheres cobriam a cabeça com um véu para ir à Igreja (Católica) e que, no dia a dia, muitas usavam um lenço na cabeça. Penso que as razoes seriam as mesmas que na religião muçulmana. Mas felizmente, as mulheres em Portugal evoluíram um pouco (em comparação ao antigamente evoluíram muito) e já dificilmente se deixam pressionar dessa forma (para ir à Igreja é ainda comum ver-se véus nas mulheres, principalmente na província). Deixam-se pressionar doutras formas, mas isso é tema para outras conversas. Desde há dois anos que tenho observado um retroceder na paisagem quando vou a Portugal. E a meu ver, véus e afins obrigatórios, não são mais do que isso mesmo, um retroceder. Sublinho o "obrigatórios", porque é isso que faz a diferença.

Respeito todas as religiões, embora para ser mais clara, quem respeito são as pessoas. Tenho amigos de várias religiões diferentes desde católicos, protestantes, muçulmanos, hindus, budistas, evangélicos, e até com crenças célticas (nao sei o nome oficial). Mas em nenhuma delas respeito a discriminação e o infrigimento dos direitos humanos. E a utilização do véu (e vestimentas "especiais") por apenas um dos géneros, neste caso feminino, não é mais do que discriminação, diga-se o que se quiser dizer, justifique-se como se quiser. É apenas um pequeno pormenor, mas que leva a profundas mudanças no comportamento dos outros e na sociedade em relação ao grupo que tem obrigatoriamente de se tapar. Não é preciso ser brilhante para se entender o impacto dum fenómeno assim, na psicologia humana.

Não necessito que me mostrem filmes em que há mulheres muçulmanas felizes com a sua condição, nem que me digam sobre a propaganda anti-Islão que anda por aí. Eu sei que há mulheres felizes com a sua condição (seja ela qual for e aqui pode-se pensar mesmo nas mais estranhas condiçoes, desde prostituição a reclusão total) e sei distinguir propaganda da realidade, pois tento sempre obter informação de fontes diversas (evito a TV). Irrita-me que hoje em dia se ande com tantos paninhos quentes com coisas que não interessam mesmo nada, como religião, e que isso nos ponha a todos cegos para os factos que importam, para o que se esconde por trás do véu.

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