quinta-feira, 11 de março de 2010

Teoria das tretas

O outro dia debatia com um amigo sobre a Guerra. Sou, acho que obviamente, anti-guerra e ele não (antes da conversa não era), porque diz que a Guerra faz parte do instinto humano, algo com que a natureza nos dotou como meio de higienização do mundo, assim uma espécie de impulsionador do progresso, blá blá, etc, etc (já conhecemos a conversa, não é verdade?). Pois eu acho o seguinte (que foi o que lhe disse): durante a minha vida, que só tenho uma, não desejo Guerra nem para mim, nem para os meus. Ele responde, eu também não. Ora bem, os argumentos poderiam acabar aqui – como considerar normal que outros sofram aquilo que nós não queremos sofrer? Isto só por si devia bastar para acabar com qualquer discurso pro-guerra papagueado por quem ouviu papaguear. Mas continuámos.

Primeiro, só tenho uma vida. Não me interessa mesmo nada perdê-la na Guerra para que se faça uma impulsão no progresso. Sério, não me interessa mesmo nada. Juro. Prefiro até mudar-me para uma casinha simples, cultivar a minha comidinha, fazer fogueiras e prescindir do conforto do progresso se isso significar a minha vida. Se eu a perder que me interessa a mim o progresso? Quero continuar a ver as estrelas no céu, a cheirar flores, a tomar banhos no mar, quero a brisa de Verão, paisagens esplendorosas, rir. Quero a vida! Aliás, que me interessa a mim, e ao planeta, que se tenha impulsionado a energia nuclear graças à Guerra (a descoberta já vinha de trás), que interessa isso aos milhares que perderam a vida ou perderam alguém querido em Hiroshima e Nagasaki? ou aviões mais rápidos, ou armas estupidamente eficazes? O único progresso que me poderia fazer ponderar dar a minha vida seria o progresso de salvar vidas e proteger o planeta, uma causa humanitária. De facto, algumas descobertas medicinais foram feitas durante a Guerra, o que não significa que não tivessem a chance de serem feitas noutra altura e de outra forma. As descobertas e o progresso aconteceriam mesmo sem guerra, a guerra apenas as impulsionou devido a uma intensa necessidade e competição entre nações. Ou não existe progresso sem guerra? Deixem-se de ser influenciados pela linguagem manipuladora da propaganda. Guerra não é paz e, principalmente, guerra não é progresso. Acordem para o que é real. Pensem pela vossa cabeça.

Segundo, é tudo muito bonito quando acontece aos outros e quanto mais longe melhor, não é assim? Higienização (whatever that means), progresso, descobertas, conhecimento, sim senhor, lindo!...cof, cof... desde que não seja às minhas custas. Pois claro. Como poderei considera-la "natural" para os outros, estranhos algures que não conheço? Seria muito egoísmo achar que eles apenas fazem parte dos planos da natureza e da misteriosa higienização, desde que não me envolvam a mim ao barulho. Escondemo-nos por trás das nossas ideias abstractas, tão bonitinhas e certinhas, dos nossos jogos estratégicos de xadrez, cegos aos verdadeiros interesses da Guerra (poder e dinheiro), e construímos lindas teorias, que impressionam qualquer gajo no café, que demonstram a suprema inteligência da nossa retórica, que alimentam discussões bio-socio-filosóficas complexas (teorias da treta, é o que lhes chamo) desde que… não seja a nossa casa a cair, não sejam os nossos irmãos a morrer, não sejam as nossas filhas a serem violadas, não sejamos nós na sala de tortura. Não sejamos nós, de repente, entregues a algum psicótico que voluntariamente se alistou para matar pessoas, e que pode, finalmente, ao abrigo da lei da guerra (tudo vale e tudo será possível no meio de tantos horrores anónimos desconhecidos), dar azo à sua imaginação sanguínea. Desde que não sejamos nós! Desde que não sejamos nós os subjugados! É preciso lata. Tudo muito bonito quando longe, quando nos livros de história, na televisão, material para debates e discussões politicas, cientificas e até serve para entreter. Tudo muito bonito, tudo muito blá blá blá, mas a realidade não é essa. A realidade é o agora. A tua vida, a vida deles.

Ele responde, gosto muito de ti.

3 comentários:

Manuela Araújo disse...

Olá Ecila

É tão fácil de entender o que disse! Porque será que tantos não entendem?
Amanhã vou ver o Estado de Guerra, há festival de cinema em Famalicão, mas tenho de me preparar psicologicamente antes!
Detesto a Guerra, mas gosto de um bom filme.

P.S.: Convido a passar lá no Sustentabilidade é Acção amanhã ou depois da meia noite, que tem bolo :)

ecila disse...

Olá Manuela, parece fácil, realmente nao sei como é que as pessoas andam tao cegas para a verdade/realidade dos factos. Como é que foi o filme?

Parabéns pelo aniversário do blog! O bolo é fantástico! Chocolate, o meu preferido, nunca resisto :-)

sevejocosilva disse...

A verdade amigo é que não há teoria, é só (como você diz)treta....
Dinheiro, dinheiro, dinheiro não importa quantos irão...