terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Formas de resistência


"Whatever you do will be insignificant, but it is very important that you do it."
Mahatma Gandhi



Encontrei em grupos do facebook, nomeadamente no grupo português "Zona Livre de OGM" ao qual podem aderir caso tenham facebook (mesmo que não tenham, podem ainda assim enviar uma carta ao Barroso ;-)), uns exemplos de cartas que podem ser enviadas directamente para a Comissão Europeia.


"Caro Presidente da Comissão Europeia,
Venho por este meio expressar a minha total oposição à autorização da cultura de qualquer organismo geneticamente modificado (OGM) na União Europeia.
Por um lado, desconhecemos os efeitos que a longo termo os OGM podem provocar na nossa saúde e na dos animais que também os consomem. Por outro, os OGM são ambientalmente perigosos, dado que o pólen dessas plantas pode propagar-se de forma incontrolável, por intermédio, por exemplo, dos insectos polinizadores, ameaçando assim a riqueza da biodiversidade existente mesmo fora dos limites das suas explorações. Acresce a isto a questão dos restritivos direitos de propriedade intelectual sobre as suas sementes, absolutamente inaceitável seja do ponto de vista económico, social ou ético.
Também não considero razoável que, com o motivo de “acabar com a fome no mundo”, se produzam OGM na UE, tendo em conta que estes produtos não foram testados convenientemente. Tal medida acabaria por acentuar ainda mais as condições de desigualdade existentes, reservando aos pobres os alimentos perigosos. Trata-se, no fundo, de uma falsa questão, uma vez que os OGM constituem já um negócio milionário de grandes empresas que dominam ou pretendem dominar os mercados internacionais. Ora, a UE não serve para defender os interesses da Monsanto ou da Bayer e a segurança alimentar é um direito dos seus cidadãos e um dever dos seus responsáveis políticos!
Neste sentido, é imperativo que os cidadãos tenham conhecimento dos produtos que consomem, mas também do processo e condições da sua produção. Do ponto de vista do direito do consumidor, considero por isso fundamental a identificação de todos os produtos derivados directa ou indirectamente de OGM disponíveis no mercado da UE.
Desde o caso das vacas loucas às consequências do aquecimento global, a história mostra que não nos podemos guiar apenas por critérios económicos para tomar decisões políticas com implicações tão importantes na vida dos seres humanos e dos ecossistemas.
Por todas estas razões, considero que, tal como tem sido feito em várias partes do mundo, a UE deve aplicar o princípio da precaução no que toca à utilização de OGM, proibindo a sua cultura e importação. Com consideração,"

Li também outra carta, do Rodolfo Sousa, da qual gostei bastante e que transcrevo abaixo:

"Caro Presidente da Comissão Europeia,
Saudações cordiais. Escrevo-lhe a propósito da votação relativa à autorização de produção de organismos geneticamente modificados (OGM), tais como cereais que produzem pesticidas e batatas resistentes a antibióticos. Até há bem pouco tempo considerava a questão dos OGM secundária, visto que tecnologias invasivas (como a irradiação) de mutação de sementes eram aplicadas à décadas, sendo que as autoridades tinham sido eficazes a proteger os consumidores e ambiente de efeitos maléficos severos. A informação resumida abaixo fez-me mudar de ideias e pedir-lhe que lute com empenho por uma moratória eficaz dos OGM na UE.
Primeiro, fiquei incrivelmente surpreendido com o resultado dos mais de 4 anos de desregularão na América do Norte: colheitas sem aumentos de nutrição ou produção (pois aumentos de quantidade eram compensados com redução da qualidade) e com aumentos entre 600% a 1000% do uso de químicos com consequências desastrosas para os trabalhadores nas fileiras alimentares e para o ambiente. A OMS estima que cada ano há cerca de 40000 mortes (não intencionais, excluindo suicídios) derivadas do uso de pesticidas e entre 3 a 4 milhões são severamente intoxicados. Na Argentina, trabalhadores estão a aplicar herbicidas não diluídos e cada vez mais tóxicos e a atacar as super-ervas daninhas resistentes ao “Roundup” da Monsanto à mão. Numa altura em que se investe em incentivos à agricultura biológica parece-me um contra-senso aceitar a escalada tóxica que os OGM actualmente implicam.
A explicação para a proliferação destas super-ervas (algumas delas espécies comerciais indesejadas) é que não é possível conter os OGM no ecossistema. Por exemplo, se o agricultor A planta soja OGM resistente ao herbicida 1 e o seu vizinho agricultor B planta soja OGM resistente ao herbicida 2 uma terceira planta resistente a ambos os herbicidas 1 e 2 pode surgir e invadir campos de outras espécies (e.g., trigo). Naturalmente uma empresa inventa um super herbicida e a escalada tóxica prossegue. Este é o perigo mais sério e comprovado para os ecossistemas e a saúde pública.
Mais, OGMs que têm pesticidas na sua composição (incluindo as partes da planta para consumo humano) suficientemente fortes para matar insectos que se alimentam deles não lhe parecem algo perigoso que deve ser cuidadosamente investigado? Se estes venenos matam insectos deverão ser consumidos por humanos sem estudos semelhantes aos elaborados para os medicamentos? Dá-los-ia aos seus filhos? Sobre o tema recorda-se que também o DDT era considerado seguro pelos seus promotores comerciais - “There is not one published peer-reviewed report in the world stating that genetically modified foods are safe”.
E, finalmente, há a questão de poder social. As OGMs são a ferramenta mais poderosa inventada até agora para o controle por grandes grupos económicos da cadeia alimentar global. O que foi decidido por tribunais na América do Norte num caso da Monsanto é incrível: 1. não interessa como é que os genes patenteados da Monsanto chegam a um campo, 2. todas as plantas objecto de polinização cruzada são propriedade da Monsanto (esta defende mesmo que basta uma planta num campo para accionar indemnizações) e 3. não interessa se foi ou não usada a função para a qual a modificação genética foi elaborada (e.g., o uso do herbicida Roundup da Monsanto). Mas como atribuir patentes sobre formas de vida que geram vida elas próprias livremente no ambiente?"

A minha própria carta é uma mistura das duas e uns acréscimos pessoais. Infelizmente, sei que a maioria das pessoas às quais enviei esta carta não a irão enviar, por muito que concordem com o que o lá vem escrito. Isto porque estão muito ocupadas com a vida delas, porque se auto-desculpam com “isto não adianta nada” e, pasmem, porque têm medo. Sim, medo. Acredito que se a comissão europeia receber milhares de cartas a protestar, milhares!!, então a nossa resistência terá impacto. E aí não há que ter medo, milhares fazem a distinção entre identificação individual (incrivelmente é disto que as pessoas têm cada vez mais medo) e resistência em massa. Desta é que é, ou nos unimos, ou será tarde demais.

Podem enviar para a Comissão Europeia aqui.

4 comentários:

Manuela Araújo disse...

Olá Ecila
Passei por aqui, mas a gora não tenho tempo de ler a carta, estou a trabalhar. Também estou sem PC em casa (pifou), mas logo que possa volto para ler. E nessa altura vou ver esse tal grupo no Facebook. Até logo.

ecila disse...

Olá Manuela, lê-se num instante, apesar do tamanho comprometedor ;-)
Boa sorte para o seu PC (that sucks)!

Manuela Araújo disse...

Já integrei o grupo contra os OGM no Facebook, e em breve vou assinar a carta e divulgar.
Um abraço

ecila disse...

Manuela, ainda bem :-D Já outras pessoas me contactaram a dizer que vao fazer o mesmo e quantas mais melhor. Beijinhos!