Frequentemente não tenho nada a dizer. Sou, por exemplo, péssima em primeiros encontros. Porque, além de frequentemente não ter nada para dizer, com pessoas que não conheço bem e onde existe assim uma espécie de pressão intimista, a esses não tenho MESMO nada a dizer. Por muito que desconfie que goste da pessoa (a essa altura do campeonato é apenas uma suspeita), não consigo discernir no meu cérebro algo que encaixe na conversa ou no momento. O cúmulo é que quanto mais química sinto, menos tenho para dizer. Acho que a química me entope os neuroreceptores.
Sei que sou assim. Os silêncios raramente me incomodam. Distraio-me muito a observar os outros. As mais pequeninas coisas, desde o casal na outra mesa em que um dos pares não olha nos olhos do outro enquanto fala (para mim das coisas mais repulsivas num potencial parceiro), à empregada que trata mal a colega no seu primeiro dia (typisch), ao rapaz que está a fazer um esforço sobrenatural para ser charmoso (perde logo o charme) e a rapariga à sua frente que não consegue piscar os olhos devido à camada de rímel que colocou (ou serão postiças? Ouvi dizer que é incomodo). Os humanos são um sem fim de comportamentos bizarros e interessantes.
Portanto, até não me chateio muito quando a outra pessoa se revela ser um daqueles casos típicos eu-eu-eu e fala sobre si toda a noite, sem grandes perguntas para o meu lado. Nos raros momentos que se lembra que existo e me pergunta algo, eu respondo, claro, não sou maluca (ha ha). Só não tenho nada a dizer voluntariamente. Ou teria mais, se entretanto vislumbrasse algum interesse vindo do grande ego. Faço perguntas de acordo com o discurso do outro, na minha cabeça vou ouvindo uns “o quê???”, enquanto da minha boca saem uns “ah sim?” e pronto, até mesmo antes do primeiro encontro já estou a imaginar tudo uma seca.
Por isso, sempre achei estranho que depois de uns tempos de encontros unilaterais, em que o outro vomitou todos os seus interesses, opiniões, grandes ideias (são uns génios), cérebros aceleradíssimos (muitos se “queixam” disto, ou é só comigo?), o eu-eu-eu em grande potência, me declaram com olhos a brilhar que estão apaixonados. Nestes casos a dúvida que persiste é sempre a mesma…mas apaixonados por quem?