terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A longa sequência

Imagem de http://sowhatsanarchy.com

Questão: Porque será que as pessoas a partir de uma determinada idade se tornam estranhas? Pelo que me lembro do que estudei (ou será que li algures numa dessas revistas “cientificas”?) o cérebro começa a perder capacidades de flexibilidade e capacidade de criar novas conexoes (neuronais) por volta dos 30 anos de idade. Na verdade, foi recentemente descoberto que até aos 30 anos existem provas de desenvolvimento cerebral, ou seja, o fascinante desenvolvimento do cérebro nao pára por volta dos 18, como antes se defendia (isto sim é de fonte seguramente cientifica - ano de 2005). Será que se deixarmos de forçar o cérebro, esse desenvolvimento começa a escassear e tal como o corpo com falta de exercício, o cérebro perde assim a sua flexibilidade? (pergunta de resposta óbvia). De qualquer forma, é por volta dessa idade (30) que costumo observar estas mudanças em algumas pessoas. Como se, de repente, acordassem e eu já nao as/os reconhecesse. Há uma fase na nossa vida em que os nossos cérebros sofrem transformaçoes radicais, fase a que chamamos adolescencia (daí alguns adolescentes serem tão “dificeis” e até problemáticos). E parece-me que há outra altura em que certos cérebros sofrem rigidificaçoes radicais, isto por volta dos 30. E há pessoas que eu deixo de reconhecer, as conversas deixam de me fazer sentido, sinceramente não sei do que estão a falar. E... pasmem... acho que alguns estao mesmo afectados do juizo (nao quer dizer que estejam, é só o que eu acho).

Lembro-me que na aproximação dos meus 30 anos, a maioria das pessoas me avisar destas mudanças. Na noite anterior à celebre data cheguei ao meu quarto de estudante (andava a estudar no estrangeiro), sentei-me a estudar (que maravilha, faço anos em altura de exames) e esperei pela meia-noite. Depois da meia-noite nada mudou. Recebi os telefonemas e os sms, o frio continuava lá fora, não me deu vontade de arranjar cortinados a combinar com as almofadas, nem de tirar os posters do “Lord of the Ring” da parede, e não olhei mais vezes para o relógio (telemóvel, porque não uso relógio) do que antes, à espera do tiquetaque biológico fazer o seu efeito. Devo dizer que me senti um pouco desiludida, porque depois de tantos avisos eu esperava algo. Algo como um clique cerebral, um shift como na adolescência, um empurrão para a vida “chata” (aos meus olhos) que leva a maioria dos adultos. E nada.
Hoje vejo que algo de errado se passa comigo, pois essa mudança acontece a toda a hora à minha volta. Sempre por volta dos 30 (mais ano, menos ano). O cérebro rigidifica. O problema pode até ser que o meu cérebro rigidificou muito antes dos 30... e pronto, ficou parado algures num tempo entre os 17 (“muito antes”) e os 27 (nao “muito antes”)... e isso leva-me a ter dificuldade em entender os mais velhos (que até sao mais novos). Acho que esse meu problema temporal tem a vantagem de facilitar o convívio e amizade com pessoas mais novas (fisicamente mais novas). Mas, agora que penso nisso, também tenho facilidade em me dar com pessoas fisicamente bem mais velhas, os da minha idade é que sao mais estranhos. Weird...!!!!

Não tem a ver com o ter filhos e casa e carro e responsabilidades e esposo/esposa, companheiro/companheira e televisão digital (ou whatever) gigante na sala e colecção de coisas que são usadas uma vez por ano. Porque conheço quem tenha isso tudo (excepto talvez a televisao gigante e excepto, definitivamente, a colecção de coisas que sao usadas uma vez por ano) e não tenha sofrido shifts cerebrais (observáveis, quero eu dizer). Simplesmente (na verdade não muito simples) teem a vida mais ocupada, e riem-se das coisas novas com que teem que lidar. Por vezes queixam-se (como eu). Aliás, tenho observado estas alteracoes em pessoas que não teem essas responsabilidades (mas falam como se tivessem - tipo “faz de conta”). Tem mesmo a ver com o cérebro. Meus amigos, crescer não significa tornarem-se secas. Ser adultos não significa tornarem-se picuinhas e obsessivos (meio malucos a meu ver). Mas isto sou eu a falar, que sei pouco sobre estas coisas, pois o meu cérebro está noutra, parado algures num tempo... que talvez não exista...

Outra coisa que me ocorreu, de acordo com o observável (always tricky) foi que talvez com a idade, os genes nos apanhem na corrida de não sermos iguais aos nossos pais. Até porque isso também deve ter ocorrido com os nossos pais. Talvez não haja muita saída, a não ser, tal como em terapia, tomar consciência do mal e tentar assim combatê-lo. Mas poucas pessoas tomam consciência de que estão a perder a corrida. Os genes ganham quase sempre. E mesmo que pareçam não ter ganho, talvez nos enganemos, talvez os seus objectivos fossem mesmo a mudança. Bom, mas melhor mudança do que rigidez, parece-me. Agora o que é estranho no meio de tudo isto, é que a conversa abaixo descrita ocorreu com uma "ela" da minha família... não sei francamente o que isso significará em termos genéticos. (suspiro)

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